MAÇONARIA COMUNITÁRIA: que vem a ser?
Irm Antônio do Carmo Ferreira
Tenho alertado nossos
irmãos maçons a respeito dos compromissos para com a comunidade em que nos
encontramos, por ser aí que residimos ou em face de, em seu âmbito, achar-se
instalada a nossa Loja. Em ambos os casos, direta ou indiretamente, o maçom
tem a ver com essa comunidade, como qualquer outro cidadão o tem em
iguais circunstâncias, devendo com ela contribuir para melhoria de seus
costumes e bem estar de todos que ali habitam. Mais ainda porque é para tornar
felizes as pessoas que nós nos entranhamos de maçonaria. Pelo menos este é o
objetivo. E mesmo porque ao se beneficiar o todo, a parte do mesmo termina por
usufruir desses benefícios.
Quando, em meus artigos,
refiro-me à maçonaria comunitária, quero tratar deste assunto. Digo que cada
Loja deve ter o seu projeto e até pareço exagerar nestas referências. Entendo
que é através desse instrumento que se põe em prática o que foi aprendido
durante a formação templária, como também que o projeto estimulará a
permanência do maçom, por muito mais tempo, em atividade na Ordem. Basta
constatar que a execução do projeto leva o maçom a envolver-se com ele,
constituindo-se num desafio, seja por sua condição de contribuinte dos meios,
seja como dirigente. E nestas condições, decerto, não serão regrados esforços
para que a missão tenha pleno êxito.
Quero ressaltar, porém, que o
envolvimento, tal como foi exposto acima, torna-se um fato circunstancial.
Enquanto que o caráter de construtor social que se assume ao ser iniciado
maçom, adverte-me que este envolvimento deve ser inerente. A construção social
é compromisso que o maçom deve resgatar não por uma obrigação (entendida aqui
como um gesto forçado), mas sim por amor à realização do que lhe é devido. A
filantropia que está na definição da Ordem, é o nome deste compromisso, sendo
seu exercício parte exotérica da vida do maçom. Falhar para com ele nem pensar,
dado que tal indiferença, todos sabemos, seria desonroso para o Iniciado.
“Amar ao próximo” foi um mandamento que se tornou evidente com o
nascimento da civilização cristã e está catalogado entre as virtudes maçônicas
que nos são dadas a conhecer desde a passagem pelo “banco das reflexões”, claro
que chamando a atenção para o fato de que
a prática dessa virtude ilustrará
nossos dias, daí em diante, e por toda a vida. O apóstolo Paulo, ao escrever
aos Coríntios, estabeleceu esta marca que a maçonaria tomou como mote: “Ninguém
busque o seu interesse, mas o do próximo”(I Cor 10, 24).
A mim me parece que já
se torna necessário a Ordem repensar seu dicionário no tocante à expressão “amor fraternal”. É o “espírito
do tempo” que exige isto. Os Estatutos das Potências estão cansados de repetir
que a “maçonaria é uma instituição iniciática, filantrópica ...” Mas já está no momento de ir mais além,
explicitando que “filantropia” não é teoria, é prática e, como tal,
absolutamente necessária, distinguindo-se de “caridade”, a qual, embora contida
na filantropia, é de menor hierarquia.
Em nossos dias, fazer
caridade é dar uma esmola, isto é, colocar, por exemplo, algum dinheiro na
bacia do pedinte postado na cabeceira da ponte, ou servir um prato de sopa na
calçada de sua residência a alguém que passa faminto, ou dar um velho e surrado
cobertor a quem treme de frio debaixo da marquise, etc. Houve um tempo
distante, mais de dois mil anos, em que a palavra “caridade” era sinônimo
perfeito de pleno “amor ao próximo”, a ponto de ser uma das três virtudes
teologais. As duas outras eram fé e esperança, mas elas ambas subalternas à
caridade (I Cor 13, 13).
Filantropia, nos tempos
de hoje, ocupa um espaço mais amplo. É um estágio mais evoluído dessa caridade.
Esse gesto de dar esmola, e não são poucos que entendem assim, contribui para
corromper os costumes. Já a filantropia não. É a contribuição não somente
destinada a atender a carências imediatas, mas também e sobretudo o caminho
para fomentar a melhoria das condições de sobrevivência seja de uma
organização, seja de uma coletividade. É uma contribuição para o progresso, o
qual também se inclui na definição da Ordem: iniciática, filantrópica,
progressista ... daí ser preciso e urgente reformar nosso dicionário!
O projeto de filantropia
é uma proposta da Loja. Não deve ser uma imposição do Venerável nem de qualquer
obreiro isolado. Pois, por seu significado e destinação, é um instrumento
consensual. Todos os membros da Loja deverão estar engajados. Será uma imensa
Oficina. Tanto que se me proponho a
realmente ser um Construtor Social, tenho que me debruçar sobre esta nobre
missão, conhecendo minha comunidade e suas carências, interpretando os seus
sonhos, avaliando suas possibilidades, estabelecendo prioridades, colaborando,
enfim, com a pavimentação de seus grandes caminhos.
Se o quadro da Loja é de
poucos obreiros, juntem-se várias Lojas. Se já existe um projeto vitorioso na
comunidade, procuremos nos associar à iniciativa. Que a Loja não seja o limite, mas a vertente. Não esquecer de que antes, como agora, a
Ordem é construir. Que à
responsabilidade individual sobreponha-se o compromisso coletivo da Oficina, e
que este seja o “orvalho do Hermon” da maçonaria comunitária.
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