sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

INFORMABIM 391 (A e B)


MAÇONARIA COMUNITÁRIA: que vem a ser?

Irm Antônio do Carmo Ferreira

 

 

Tenho alertado nossos irmãos maçons a respeito dos compromissos para com a comunidade em que nos encontramos, por ser aí que residimos ou em face de, em seu âmbito, achar-se instalada a nossa Loja. Em ambos os casos, direta ou indiretamente, o maçom  tem a ver com  essa comunidade, como qualquer outro cidadão o tem em iguais circunstâncias, devendo com ela  contribuir para melhoria de seus costumes e bem estar de todos que ali habitam. Mais ainda porque é para tornar felizes as pessoas que nós nos entranhamos de maçonaria. Pelo menos este é o objetivo. E mesmo porque ao se beneficiar o todo, a parte do mesmo termina por usufruir desses benefícios.

Quando, em meus artigos, refiro-me à maçonaria comunitária, quero tratar deste assunto. Digo que cada Loja deve ter o seu projeto e até pareço exagerar nestas referências. Entendo que é através desse instrumento que se põe em prática o que foi aprendido durante a formação templária, como também que o projeto estimulará a permanência do maçom, por muito mais tempo, em atividade na Ordem. Basta constatar que a execução do projeto leva o maçom a envolver-se com ele, constituindo-se num desafio, seja por sua condição de contribuinte dos meios, seja como dirigente. E nestas condições, decerto, não serão regrados esforços para que a missão tenha pleno êxito.

 Quero ressaltar, porém, que o envolvimento, tal como foi exposto acima, torna-se um fato circunstancial. Enquanto que o caráter de construtor social que se assume ao ser iniciado maçom, adverte-me que este envolvimento deve ser inerente. A construção social é compromisso que o maçom deve resgatar não por uma obrigação (entendida aqui como um gesto forçado), mas sim por amor à realização do que lhe é devido. A filantropia que está na definição da Ordem, é o nome deste compromisso, sendo seu exercício parte exotérica da vida do maçom. Falhar para com ele nem pensar, dado que tal indiferença, todos sabemos, seria desonroso para o Iniciado.

  “Amar ao próximo” foi um mandamento que se tornou evidente com o nascimento da civilização cristã e está catalogado entre as virtudes maçônicas que nos são dadas a conhecer desde a passagem pelo “banco das reflexões”, claro que chamando a atenção para o fato de que  a prática dessa virtude  ilustrará nossos dias, daí em diante, e por toda a vida. O apóstolo Paulo, ao escrever aos Coríntios, estabeleceu esta marca que a maçonaria tomou como mote: “Ninguém busque o seu interesse, mas o do próximo”(I Cor 10, 24).

A mim me parece que já se torna necessário a Ordem  repensar seu dicionário no tocante  à expressão “amor fraternal”. É o “espírito do tempo” que exige isto. Os Estatutos das Potências estão cansados de repetir que a “maçonaria é uma instituição iniciática, filantrópica ...”  Mas já está no momento de ir mais além, explicitando que “filantropia” não é teoria, é prática e, como tal, absolutamente necessária, distinguindo-se de “caridade”, a qual, embora contida na filantropia, é de menor hierarquia.

Em nossos dias, fazer caridade é dar uma esmola, isto é, colocar, por exemplo, algum dinheiro na bacia do pedinte postado na cabeceira da ponte, ou servir um prato de sopa na calçada de sua residência a alguém que passa faminto, ou dar um velho e surrado cobertor a quem treme de frio debaixo da marquise, etc. Houve um tempo distante, mais de dois mil anos, em que a palavra “caridade” era sinônimo perfeito de pleno “amor ao próximo”, a ponto de ser uma das três virtudes teologais. As duas outras eram fé e esperança, mas elas ambas subalternas à caridade (I Cor 13,  13). 

Filantropia, nos tempos de hoje, ocupa um espaço mais amplo. É um estágio mais evoluído dessa caridade. Esse gesto de dar esmola, e não são poucos que entendem assim, contribui para corromper os costumes. Já a filantropia não. É a contribuição não somente destinada a atender a carências imediatas, mas também e sobretudo o caminho para fomentar a melhoria das condições de sobrevivência seja de uma organização, seja de uma coletividade. É uma contribuição para o progresso, o qual também se inclui na definição da Ordem: iniciática, filantrópica, progressista ... daí ser preciso e urgente reformar nosso dicionário! 

O projeto de filantropia é uma proposta da Loja. Não deve ser uma imposição do Venerável nem de qualquer obreiro isolado. Pois, por seu significado e destinação, é um instrumento consensual. Todos os membros da Loja deverão estar engajados. Será uma imensa Oficina. Tanto que  se me proponho a realmente ser um Construtor Social, tenho que me debruçar sobre esta nobre missão, conhecendo minha comunidade e suas carências, interpretando os seus sonhos, avaliando suas possibilidades, estabelecendo prioridades, colaborando, enfim, com a pavimentação de seus grandes caminhos.

Se o quadro da Loja é de poucos obreiros, juntem-se várias Lojas. Se já existe um projeto vitorioso na comunidade, procuremos nos associar à iniciativa.  Que a Loja não seja o limite, mas a vertente.  Não esquecer de que antes, como agora, a Ordem é construir.  Que à responsabilidade individual sobreponha-se o compromisso coletivo da Oficina, e que este seja o “orvalho do Hermon” da maçonaria comunitária.

                             

 

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