domingo, 7 de março de 2010

DIA DE PERNAMBUCO

Neste domingo, dia 7 de março, foram encerrados os festejos comemorativos dos 193 anos da Revolução Republicana de 1817. Uma revolução dos maçons que objetivavam dar uma pátria aos brasileiros sob o regime governamental de República. Isto foi alcançado e vigente durante 74 dias, a partir de seis de março de 1817. O Governo do Estado de Pernambuco, através de Lei, instituiu o DIA DE PERNAMBUCO, tornando SEIS DE MARÇO sua data magna. Os festejos deste ano culminaram com uma Sessão Magna no tradicional Cine São Luiz, em que o Exmo Sr Governador do Estado recepcionou o Grande Oriente Independente de Pernambuco. O Grão-Mestre da Obediência, Irm Antônio do Carmo Ferreira, fez, na oportunidade, o seguinte pronunciamento:
ELOGIO A REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 1817


Irm Antônio do Carmo Ferreira

“Aqueles que ensinaram aos muitos os caminhos da liberdade, ganharão o resplendor das estrelas. E por mais perversas que sejam, as trevas jamais ofuscarão o seu brilho”. (Bíblia, Velho Testamento, Daniel 12, 3).

Desejo tornar evidentes nossos agradecimentos à Comissão Organizadora destas comemorações, em virtude da honra com que cumula a Maçonaria, através do Grande Oriente de Independente de Pernambuco, abrindo-lhe a oportunidade de inclusão neste evento, com que o Governo do Estado festeja a Data Magna de Pernambuco, cujo diploma legal entendemos seja não só a declaração da verdade, mas também o mais veemente de todos os amparos ao prosseguimento da luta, para que a História do Brasil registre, com as letras devidas, as páginas gloriosas e heróicas da contribuição pernambucana à nossa Independência. A Lei (1) que institui a Data Magna será o amparo e o instrumento. Dentro de alguns instantes, queremos tornar pública nossa gratidão ao Exmo Sr Governador (2), em face da sanção da Lei a que me reporto.

No último quartel do século passado, logo em seu começo, iniciei-me na ordem dos sentimentos da pernambucanidade. Havia sido aprovado em concurso público e nomeado para ocupação de cargo na Secretaria da Fazenda. Deixava meus alunos e os colegas de magistério, na Universidade Federal. O meu Reitor fez a fala de despedida. E, aí, me alertava para que eu lesse, com a maior atenção, os livros sobre Recife, pois, “naquela cidade, muitas de suas ruas têm o leito construído de pedras que são travesseiros de heróis.” (3)

O meu Reitor não queria se reportar aos que fizeram e tombaram na expulsão dos batavos, legando aos pósteros a unidade do território do Brasil e de nosso idioma (4). Ele não queria se reportar à instalação, em 1796, do Areópago de Itambé e seu funcionamento, preparando os doutrinadores para a construção de uma pátria para os brasileiros. Areópago ou reunião de sábios dirigido por Manuel Arruda da Câmara, formado médico e botânico, em Montpelier, onde ingressara na Maçonaria, voltando ao Brasil possuído dos sonhos de liberdade que inundavam a Europa, e já haviam dado frutos na emancipação política da América inglesa e marchavam, a passos largos e no mesmo sentido, na América espanhola.(5)

O meu Reitor não queria se referir à “Conspirata dos Suassunas”, em 1801, em que se tentava a parte prática da doutrinação de Itambé – ou seja, a implantação da República do Brasil.(6) Ainda era precoce a colheita. Por isto não logrou êxito, mas a semente já havia sido jogada em terra fértil ... Ele não queria referir-se ao movimento em busca da emancipação que se expandia célere, de forma codificada nos púlpitos das igrejas, e com seus detalhes traçados sob o segredo das Lojas Maçônicas, dentre elas a Academia do Paraíso, a Academia de Suassuna, a Pernambuco do Oriente, a Pernambuco do Ocidente, a Oficina de Igarassu.(7)

A referência às “pedras travesseiros de heróis” era atinente à Revolução Republicana de 1817, desencadeada em 6 de março daquele ano, aqui, no Recife, e aos que a seu término foram martirizados. A colimação dos sonhos de uma pátria para os brasileiros, com República, Constituição, compromissos com a libertação dos escravos, liberdade de culto e de imprensa, bandeira, universidade. Seus líderes, todos maçons de batina e sem batina, excetuando apenas o representante da agricultura.

O significado desta Revolução Republicana que inspirou o Governo do Estado a creditar o dia de seu início como a Data Magna de Pernambuco pode ser encontrado em algumas obras literárias, de autores da maior credibilidade como o padre Dias Martins, contemporâneo da Revolução, em Mártires Pernambucanos; o monsenhor Muniz Tavares, em História da Revolução de 1817, com anotações do historiador Oliveira Lima; Henry Koster, em Viagens ao Nordeste do Brasil; Tollenare, em Notas dominicais; Frei Caneca, em Obras completas; Mário Melo, em História da Revolução de 1817; e mais recentemente Amaro Quintas, em A Revolução de 1817; Glacyra Lazzari Leite, em Pernambuco 1817; Francisco de Assis Carvalho, em Itambé berço heróico da Maçonaria no Brasil; Evaldo Cabral de Melo em Frei Joaquim do Amor Divino Caneca; Gonçalo de Mello Mourão em A Revolução de 1817 e a História do Brasil; e atualmente Paulo Santos, em A Noiva da Revolução.

Todos eles descrevem o significado da Revolução Republicana de 1817 que tornou irreversível a Independência do Brasil, antecipando-a em 5 anos ao Grito do Ipiranga. A República durou 74 dias, medindo-se sua importância, pela crueldade com que a Coroa portuguesa combateu-a, mandando, a seu término, enforcar e fuzilar toda uma geração formada na Europa e no Seminário de Olinda; humilhando a família pernambucana; enviando aos calabouços da Bahia centenas dos revolucionários; mutilando o território pernambucano por duas vezes, tirando-lhe as planícies férteis das Alagoas e posteriormente entregando à Bahia, como prêmio à ajuda ao combate a Pernambuco, a Comarca do São Francisco, território do qual, porém, até hoje não abrimos mão.

Mas o fazimento desta pátria para os brasileiros, em cuja construção de 1817 perderam a vida Amaro Gomes da Silva, Antonio Henrique Rabelo, Antonio Pereira de Albuquerque, Domingos José Martins, Domingos Teotônio Jorge, Francisco José da Silva, Inácio Leopoldo de Albuquerque Maranhão, João Ribeiro Pessoa de Melo e Montenegro, José de Barros Lima, José Inácio de Abreu e Lima, José Luiz de Mendonça, José Peregrino Xavier de Carvalho, Miguel Joaquim de Almeida e Castro e Pedro de Souza Tenório, essa construção amalgamada com o sangue pernambucano, não está registrada na História do Brasil. Um crime horrendo que se perpetua, negando-se, a quantas gerações?, o conhecimento de páginas tão gloriosas! Em breve, nos amanhãs de 2017, 200 anos se completam. Os áulicos da Coroa portuguesa tinham consciência do mal que perpetravam, fazendo a história omissa desse feito glorioso. Eles tentavam privar, de sua melhor parte, a existência do Brasil, apagando a recordação, se tivermos em vista que “a vida não é a que a gente viveu, mas a que a gente recorda”. (8)

Decerto por isto o revolucionário Muniz Tavares tenha escrito com tanta ênfase a seguinte passagem: “A Revolução de Pernambuco em 1817, bem que mui pouco durasse, fará sempre época nos anais do Brasil. Tempo virá em que seis de março, no qual ela foi efetuada, será para todos os brasileiros um dia de festa nacional. Pernambuco já se tinha assaz ilustrado na sanguinolenta luta, que por longo decurso de anos, desprovido dos meios, abandonado a si só, valorosamente sustentara contra uma das mais poderosas nações marítimas da Europa, defendendo a sua honra, o seu território, a despeito das reiteradas ordens do tímido Bragança. Com a Revolução indicada conquistou imprescritível direito à veneração dos amigos sinceros da liberdade. Estes não poderão esquecer jamais que foi esta província quem primeiro deu o sinal ao Brasil de ter chegado o momento tão suspirado de entrar no gozo dos bens imensos, que a cobiça portuguesa por espaço de três séculos extorquia. Foi ela quem lhe apresentou a grande Carta de emancipação civil e política e mostrou com o exemplo a maneira de possuí-la”.(9)

Salvam-nos contudo os registros internacionais. È o que nos revela o diplomata Gonçalo Mello Mourão, em livro que contém pesquisa, por ele desenvolvida nos principais centros de documentação da diplomacia mundial, onde destaca que “A Revolução de 1817 criou o Brasil a nível internacional como entidade independente e com ela começa a história diplomática do Brasil”.(10) Mais: que “a cobertura que o Times dá ao acontecimento da Revolução de 1817 em Pernambuco é excepcional; maior do que a que daria, cinco anos mais tarde, à própria Independência do Brasil, e deixa patente a magnitude da repercussão daquele levante”.(11)

Daí a luta da Maçonaria por este reconhecimento. Luta que tomou impulso a partir das comemorações do bicentenário do Areópago de Itambé, realizadas em Pernambuco, com a presença de inúmeros líderes da maçonaria brasileira, em abril de 1996.(12) Para a inserção desta importantíssima notícia na História do Brasil temos, porém, encontrado resistência, que esperamos ser demolida com o advento da Lei que instituiu a Data Magna de Pernambuco, a respeito da qual me referi, como sendo a declaração do Poder Político de que é necessário, devido e urgente o reparo da História.

Estamos dispostos a prosseguir nesta campanha e confiantes em seu sucesso. Pois, como se percebe e do que se tem notícia, este buscado reconhecimento já recebe animadora consideração em muitos dos centros culturais do País, especialmente nos albergues da literatura e das comunicações. Agora, é semear nos colégios! É agregar mais simpatizantes, muitos simpatizantes, por toda parte, porque “a messe é grande e ainda poucos são os operários”.(13)

Agora, é do ar dos campos que também devamos querer ouvir a palavra de exaltação a esta arrojada e decisiva contribuição de Pernambuco, para que se desse a Independência do Brasil, estimulando o engajamento de todos e a cobrança, daqui pra frente, até que a História do Brasil inclua, de forma clara, páginas tão gloriosas devidas ao sacrifício de “nossos bravos guerreiros”. (14)

Só assim e com maior encanto, poderemos entoar, não só por enquanto, mas para sempre, o canto de PERNAMBUCO IMORTAL! IMORTAL!

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