SOBRE O PADROEIRO DA ORDEM
Ir Antônio do Carmo Ferreira
Recordo que em junho de 2001, a Editora Maçônica A
TROLHA acabou de imprimir o livro SÃO JOÃO BATISTA E A MAÇONARIA, através do
qual seu autor depõe, com êxito admirável, em favor de João Batista como
“Excelso Patrono” da Ordem.
Já havia conversado com Xico Trolha, várias vezes, a respeito
desse tema, desde que escreveu a
“Descristianização da Maçonaria” (1997) e, no livro, me distinguiu,
transcrevendo artigo ligado ao Pórtico de Salomão. Conversas provocadas por
ele, e elasticidas com suas perguntas valiosas e preciosas observações. Xico
era um mestre, confidente e bastante responsável. Não falava dos autores, nem
dos livros que recebia para editar. Eu supunha que havia algo a ser publicado,
no campo do que ele me indagava, pelas coincidências. Era a conversa e poucos
meses depois, o livro estava sendo anunciado.
Sobre os Joãos – Batista e Evangelista –, na
maçonaria, havíamos tratado, em abril,
no Recife, quando da realização do Encontro Nacional da Cultura Maçônica. E,
aí, lhe dissera ter-me acostumado com a expressão “Padroeiro”, em lugar de
“Patrono”. Ele riu, alegando que “o uso do cachimbo entorta a boca”. E, ao mesmo
tempo, me consolava: “Varoli e Aslan também preferem Padroeiro”. As interpretações
e justificativas que levam à preferência pelos termos são excelentes e só
enriquecem a história da Ordem.
Xico e eu estávamos de acordo. A maçonaria, nascida
operativa, veio ao mundo num tempo
integralmente cristão. Cada país tinha o seu santo padroeiro. Cada
província, cada cidade, cada família, também. As corporações não fugiam à
regra. As guildas, como se dizia com as corporações de ofício, cada uma tinha o
seu padroeiro. Os carpinteiros, os alfaiates, os ferreiros, os pedreiros, etc.
Todos queriam um advogado junto à comarca celestial.
Predominava, naqueles tempos, uma intensa religiosidade ... como grassava o
analfabetismo. Os pedreiros, mais que os integrantes de outras guildas, se
entranharam dessa religiosidade. Certamente porque eles construíam as igrejas,
os conventos, as capelas, as catedrais, os mosteiros. Os monges que a princípio
lhes ensinaram as regras do construir, passaram a secretariar as suas
corporações e influir, por esta convivência, em seus costumes religiosos. As
guildas dos pedreiros não tinham como deixar de ser católicas apostólicas
romanas.
Os monges conduziam às reuniões. Certo dia, um deles
presenteia a sua guilda com um manuscrito
do evangelho de São João. E faz a leitura da parte introdutória, referente à
prevalência da luz sobre as trevas. Não tardou a se fazer costume o presenteio
do manuscrito. E o costume tornou João Evangelista Padroeiro da maçonaria operativa (1). Quando um maçom se apresentava e era abordado,
logo se identificava como um protegido do santo.Encontra-se isto em todos os
catecismos de então. “De onde vindes?” O maçom perguntado, respondia incisivo:
“De uma Loja de São João”.
Em 1717, no dia 24 de junho, os maçons de quatro Lojas
londrinas se reuniram e resolveram adotar
o sistema obediencial para a Ordem. Não mais a Loja solitária. Mas sim
as Lojas solidárias. O maçom não mais um trabalhador da “pedra e cal”, porém um
“construtor social”.
A data do advento desta nova maçonaria – 24 de junho -
inspirava a entronização de um novo Padroeiro – o João Batista. Nossos rituais
dão muitos pontos em favor de João Batista que o chamam de “o degolado e mártir
por recusar-se a abdicar de sua fé”, chamando a atenção do iniciado para o fato
de que “a fé maçônica é inquebrantável”.(2)
Ambos os Joãos – o Evangelista e o Batista - merecem o
status, pois tiveram vida bastante exemplar para, como tal, serem reconhecidos.
Para maiores esclarecimentos, sugere-se a leitura do livro “São João Batista e
a Maçonaria” do laureado escritor pesqueirense, ora residente em Brasília, Luiz Gonzaga da Rocha, a quem muito estimamos.
Nota:
Sobre
este assunto, transcrevemos pesquisa do editor do jornal O Malhete, Estado do
Espírito Santo, Ir Luiz Sérgio de Freitas Castro.
O
apóstolo João foi o mais jovem dos doze discípulos de Jesus Cristo, e viveu
entre os anos 6 e 103 da Era Cristã. De acordo com o Livro da Lei, João foi o
mais fiel discípulo e acompanhou Jesus até o instante da sua crucificação, no
Gólgota. As obras bíblicas de João Evangelista são: suas três Epístolas, o
Evangelho segundo São João e o Livro do Apocalipse. Nesse último livro, o
apóstolo narrou sua visão profética dos Últimos Dias e a vinda da Jerusalém
Celestial, estudada no Grau 19 (Grande Pontífice, ou Sublime Escocês) do Rito
Escocês Antigo e Aceito. Maçonicamente, o exemplo de vida deixado por São João
Evangelista, ressalta a fidelidade, o companheirismo e a lealdade como virtudes
maçônicas fundamentais. O apóstolo João
escreveu o Apocalipse durante o seu exílio na ilha de Patmos, na Grécia.
(2)São
João Batista (ou São João, o Batista)
João
Batista foi um eremita, profeta e pregador que viveu na Judéia, no início do
Século I. Conforme narra o Livro da Lei (ou Bíblia), o título de batista referia-se
ao fato de João Batista pregar um batismo de arrependimento e, posteriormente,
batizar os arrependidos. João Batista, além de anunciar a vinda do Messias, era
um severo crítico do governo romano na Judéia, tendo sido, por isso, perseguido
e executado.A morte de João Batista, decapitado, possui forte significado
maçônico. Simbolizando a mensagem de um homem que prefere ter a garganta
cortada, a negar a sua Verdade pessoal.
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