terça-feira, 2 de abril de 2013

INFORMABIM 330 (A e B)



VISIBILIDADE AO BEM
Irm Antônio do Carmo Ferreira

           O Rabino Menashem põe a mão em meu ombro, aproxima a face de meu ouvido esquerdo e sussurra: “precisamos, meu irmão, com muita urgência, encetar uma campanha de visibilidade ao bem, tal como a em que você tem sido tão insis-tente ativista”.De acordo, Ir Rabino! Que a messe   tenha mais operários, completei.
Entendo haver razão de sobra em sua convocação. Estávamos deixando a sala de recepção, onde a televisão apresentava a novela do período nobre. Noite de festa, em que as famílias (senhoras e filhos) iam chegando e à espera do mo-mento do coquetel deixavam-se ficar, assistindo ao desenrolar do folhetim, em que vilões fustigavam mocinhas despreparadas para vida, submetendo-as a processo de intenso sofrer, após enganá-las com a promessa de riqueza fácil. Essa trilha da enganação e do viver desregrado era exposta em detalhes, facilitando por demais a aprendizagem.
A mídia e outros meios de comu-nicação prosperam na transmissão dos fatos em seus aspectos da maldade, enquanto a notícia de  uma boa ação não aumenta a venda da tiragem. O produto midiático é vendido segundo o volume de sangue que escorre. O dinheiro que entra nos cofres do produtor de notícias é diretamente proporcional à maldade noticiada.
Vivemos os dias em que não se estimula a beleza da “peregrinação de retorno à casa do Pai”, mas se disserta sobre as agruras do inferno, não pelas agruras do inferno, mas para induzir ao medo e daí poder-se tirar proveito dos incautos.
O mal dá sinais de que se encontra alastrado por todos os cantos do mundo. Nas vitrines da vida, ocupando os maiores espaços. O Santo Padre João Paulo II, já pertinho de sua chegada à Casa do Pai, publica o livro MEMÓRIA E IDEN-TIDADE, de sua autoria, em cujo capítulo inicial trata  do mal e do limite que se lhe deve ser imposto. Confirma que o homem guarda  germes do bem e do mal. No livro a que aludimos há uma afirmação nesse sentido. Tudo se passa como  se a vida fosse um espaço e que aí não houvesse vazio.  Se o bem mingua, o mal cresce. Por sorte da pessoa é que nela sempre existirá um pouquinho de bem, por menor que seja, mas sempre existirá ao menos uma semente germinal. “Como entende Santo Tomás na esteira de Santo Agostinho: o mal é sempre ausência de um bem qualquer que deveria estar presente em determinado ser; é uma privação, mas nunca uma total ausência do bem”.
E Sua Santidade, em “Memória e Identidade”, revela essa sorte de que o homem no fazer da vida não está só, mas é preciso esforçar-se para merecer a ajuda.  O importante é estar atento à recomendação de São Paulo em carta aos Romanos (12, 21), quando ele aconselha: “não se deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem”.
O Rabino lamenta que os meios de comunicação preencham seus espaços, enfocando o mal; privilegiando a difusão das notícias com a tinta do sofrimento e as cores dos descaminhos. Conforto-o, convocando os maçons, como é seu desejo,  para levar avante um mutirão em que se dê maior visibilidade ao bem. Aliás, talvez nem seja necessário  o cha-mamento, porque essa é a função dos maçons, sendo eles construtores sociais. A maçonaria é uma escola em que o homem se forma na arte de amar ao próximo, como um dos dois mandamentos, em que o primeiro é amar a Deus sobre todas as coisas. O maçom é o agente da maçonaria, cujo principal objetivo é tornar feliz a humanidade.
Dar maior visibilidade ao aspecto bom das coisas e ao estado de felicidade  que todas as pessoas devem buscar é o projeto com que o maçom tem compromisso. Sempre teve, porque “serve a Deus quem vive na virtude e na prática do bem”, dando-lhe a maior visibilidade. (Ri-
tual do Aprendiz Maçom, REAA). (Informabim 330 B)

quinta-feira, 28 de março de 2013

INFORMABIM 329 (A e B)



CANECA: O JORNALISTA FEITO MÁRTIR.
(II – Conclusão)
Irm Antônio do Carmo Ferreira

            S.M.I alegava que “havendo esta assembleia perjurado do tão solene juramento que prestou à nação, de defender a integridade do Império, sua independência e a minha dinastia, hei por bem, como Imperador e defensor perpétuo do Brasil, dissolver a mesma assembleia;...” (I TP)
O Imperador prometera no mesmo decreto que iria convocar outra Constituinte que haveria de conceder ao povo brasileiro constituição de agrado em dobro ao que se pretendia através da assembleia que dissolvera. Caneca analisa o “perjúrio” a que se reporta D. Pedro. Detalha o decreto. Analisa-o em todo o seu tecido e não encontra um fio sequer que justifique a decisão tomada por S.M.I. É o próprio Caneca quem pergunta e responde: “E faltaram os Deputados a este juramento, com fatos, ou o fosse por dolo, ou por culpa, como era indispensável, para serem qualificados de perjuro à face de todo o mundo? É o que jamais se não conclui dos trabalhos, assentos, decisões e decretos da soberana assembleia. Correm impressos, por todo o mundo, os Diários desse augusto congresso e, da leitura deles não há uma pessoa que possa estar pela asserção do decreto, antes pelo contrário, se conhece, que a assembleia observou, com toda religiosidade, a santidade de seu juramento.” (I TP) Que grande não foi a decepção do jornalista?  Com o correr do tempo, decerto mais se agigantara a decepção, porque ao invés de uma outra constituinte de representação popular, como a dissolvida, foi nomeado um “Conselho de Estado”, para elaborar a Carta Magna que, finalmente, foi apresentada às Câmaras Provinciais para juramento.
Caneca gerou o Typhis, para divulgar as notícias sobre o pós Independência, tempo em que sua percepção o convencia de que todo o esforço e sacrifício de tantas vidas em 1817 que culminaram com o Grito de 7 de setembro de 1822 poderiam resultar debalde. Encontrava-se esse entendimento
explicito em cada edição do Typhis: “Um nuvem que os ares escurece, sobre nossas cabeças aparece”. Alerta que tomara por empréstimo ao vate português, no Canto 5º de Os Lusíadas e com o qual tentava despertar todos os seus coestaduanos.
O seu presente do Natal de 1823 era nesse sentido. “Acorda, pois, ó Pernambuco, do letargo em que jazes! Atenta os verdadeiros interesses, vê o perigo; olha o medonho nevoeiro que se levanta do sul e que se vai desfechar em desastrosa tempestade...”  A linha editorial a que o Typhis se propôs foi seguida fielmente de sua primeira à última edição. Seu redator acreditava nos benefícios da liberdade de imprensa e de expressão, como forças impulsionadoras do progresso da sociedade e da contribuição para o respeito à dignidade das pessoas. Perseguindo esses objetivos o  Typhis circulou  em 28 edições até quinta-feira, 5 de agosto de 1824, que enfeixadas em um só volume, foram publicadas em 1869 por determinação de Henrique Pereira de Lucena, Presidente da Província de Pernambuco e depois Barão de Lucena.
O Senador Moacyr Dallas, presidindo o congresso nacional, mandou fazer uma tiragem de todas as edições do Typhis Pernambucano e na introdução a esse trabalho, ressalta que “Frei Joaquim do Amor Divino Caneca é um dos principais repórteres dos antecedentes, do ideário da época e do desfecho final do movimento” (a Confederação do Equador). O próprio jornalista Caneca confirmara isto em  depoimento perante seus algozes, reunidos em Comissão, que o sentenciara à morte. “Foi perguntado se nunca propagara ou publicara idéias ou escritos subversivos da boa ordem. Respondeu que fora redator do periódico intitulado o Typhis, em o qual se contêm as idéias que ele propagara ...” Em 13 de janeiro de 1825, mandaram arcabuzá-lo.
O exercício da liberdade de imprensa contribuiu decisivamente para que Caneca perdesse a vida. Um jornalista feito mártir.
 (Informabim 329 B)

INFORMABIM 328 (A e B)



CANECA: O JORNALISTA FEITO MÁRTIR
(I)
Irm Antônio do Carmo Ferreira

           O decreto de S.M.I, datado de 12 de novembro de 1823, determinando a dissolução da Assembleia Constituinte, desagradou a quase todos os brasileiros, acentuando-se essa tristeza não somente e por razões óbvias nos Deputados que haviam assumido o texto  da  I Carta Magna e apresentado à discussão, mas também e sobretudo naqueles que esperavam ter um Imperador exercitante do Poder nos moldes que o povo desejava, e que seus representantes já haviam começado a discussão. Sua Majestade Imperial , por aquele decreto, frustrava as expectativas, e se afastava do ser liberal que antes inspirava, revelando-se um mandante absolutista.
Frei Caneca que havia padecido nos calabouços da Bahia, durante três anos, por decisão dos representantes de D. João, pai de Pedro I, ainda acreditava que o decreto teria sido uma enganação dos assessores de S.M.I., pois neste sentido suas são estas palavras: “Para desgraça deste Império, realizaram-se os temores dos que sabiam pesar o perigo da força armada nas mãos de um príncipe jovem, rodeado de lisonjeiros sem caráter, inimigos encarniçados do Brasil”(I TP).
Essa crença de  Frei Caneca em S.M.I. era tamanha que, mesmo estando o Decreto em vigência, ele ainda atribuía o documento a uma cilada em que teria caído o Imperador, mas que logo haveria de corrigir a decisão. E esse pensamento alcançou foro de realidade, ao ver de Caneca, diante da  seguinte conclamação: “Rompamos por entre os maiores perigos, demandemos o norte da Independência ou Morte, temos um seguro santelmo no imortal Pedro I. Com os olhos fitos nele, sustentemo-nos na borrasca, que nos luzirá a bonança risonha; trabalhemos com sofrimento e coragem.”(I TP)
Contudo, o tempo – crítico dos críticos, no dizer de Guerra Junqueiro – em seu decorrer, não tardou na derrubada da crença de Caneca, revelando-se a verdadeira intenção política de SMI. Então o Frei (maçom e eclesiástico) teve a percepção dessa reengenharia política imperial, enquanto o jornalista, a necessidade de externá-la. Da junção dos dois sentimentos  nasce o Typhis Pernambucano, periódico das notícias daquele novo tempo que Pernambuco e vizinhos iriam vivenciar.
Disse assim o jornalista  Caneca, o frade maçom, quanto à criação do noticioso: “Acorda, pois, ó Pernambuco, do letargo em que jazes! ... O teu Typhis te apontará as cicladas, os bósforos, as sirtes; te  notará os perigos ate onde se estender o horizonte da sua vista; ele subirá o mais elevado tope da tua gávea, sem mudar a cor do rosto” (I TP)
E justificava as razões por que se tornava necessária a existência e circulação do Typhis, pois “Quando a nau da Pátria se acha combatida por ventos embravecidos; quando pelo furor das ondas ela ora se sobe às nuvens, ora se submerge nos abismos; quando, levada do furor dos euripos, feita o ludibrio dos mares, ela ameaça naufrágio e morte, todo cidadão é marinheiro; um deve sustentar o timão, outro por a cara ao astrolábio, ferrar o pano, outro alijar ao mar os fardos, que a sobrecarregam e afundam, cada um prestar a diligência ao seu alcance e sacrificar-se pelos seus cidadãos em perigo”.(I TP)
E o frade maçom e jornalista, ele mesmo, colocava-se à disposição de Pernambuco, com cujo irredentismo se identificava, sem temor de alardear, disposição que mais tarde lhe valeu a vida. “Firme neste princípio, eu levanto a voz do fundo da minha pequenez e te falo ó Pernambuco, pátria da liberdade, asilo da honra e alcaçar da virtude! Em ti florescem os Vieiras, os Negreiros, os Camarões e os Dias, que fizeram tremer a Holanda, e deram espanto ao mundo universo; tu me deste o berço, tu ateaste, no meu coração, a chama celeste da liberdade, contigo ou descerei aos abismos da perdição e desonra, ou a par da tua glória voarei à eternidade. (I TP). (Informabim 328 B)
(Continua)

quarta-feira, 27 de março de 2013

INFORMABIM 326 (A e B)



Discurso do GM Antônio do Carmo Ferreira
ao ensejo das homenagens prestadas ao Ir.’. do Amor Divino, Frei Caneca,
em 13 de janeiro de 2013, no Forte de Cinco Pontas, Recife/PE.
O GOIPE, a Prefeitura da Cidade do Recife e o Povo.

Este é um momento muito importante para a maçonaria brasileira. Como um de seus Grão-Mestres, desejo expressar os melhores agradecimentos pela honra com que Sua Excelência o Prefeito do Recife distingue os maçons, em nos convidando para estarmos presentes, e efetivamente participando destas homenagens, que ora são prestadas ao maçom Joaquim do Amor Divino Rabello, o Frei Caneca, mártir pernambucano, herói nacional, um dos artífices da pátria dos brasileiros.
A maçonaria ingressou no Brasil, no fim do inverno de 1796, pelo portal de Itambé, onde e quando  Manuel Arruda da Câmara, o ex Frei Manuel do Coração de Jesus, instalou o Areópago, com o objetivo de doutrinar o povo para a construção de uma pátria para os brasileiros. Arruda da Câmara retornava de Montpellier, França, onde se formara em Medicina e fora iniciado na Maçonaria. Joaquim do Amor Divino Rabello, nascido no Recife, era, então, um rapazinho de 17 anos, idade em que tomou o hábito.
Em 1801, ocorre a Conspirata de Suassuna. Primeiro fruto da ação dos areopagitas de Itambé. Pretendia-se a Independência do Brasil sob o amparo de Napoleão. Ainda não era  tempo de colheita. Contudo, mais e mais, fincava-se a pretensão. O Areópago cerrava as suas portas em Itambé, porém os sábios dali migraram para o Recife. E, aqui, fundaram as duas Lojas Maçônicas: Academia do Paraíso, sob o Veneralato do Padre João Ribeiro, e a Academia de Suassuna, sob o Veneralato do Cel  Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque.
Nessa Loja Academia de Suassuna, o Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, já ordenado em 1801,  foi iniciado maçom, conforme registro do padre Dias Martins, em seu livro Mártires Pernambucanos, publicado inicialmente em 1853. Nessa obra, o autor acrescenta terem ingressado na Ordem, na mesma Loja Maçônica, os senhores Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio, e o padre Miguelinho.
Em 1823, Frei Caneca entrega ao prelo suas Cartas de “Pítia a Damão”, sendo que na X Carta demonstra profundo conhecimento sobre a Maçonaria, informando já haver lido 14 livros a seu respeito, faz-lhe muitos elogios, pede respeito à mesma e revela o progresso já então alcançado pela Ordem maçônica  em Pernambuco.
Anos depois, essa notícia da iniciação maçônica do Frei Caneca é confirmada pelo jornalista Mário Melo, Secretário do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, em seu livro “Maçonaria no Brasil, Prioridade de Pernambuco”,  publicado em 1909.
A Revolução de 6 de março de 1817 foi a afirmação dos sonhos de liberdade que se concretizariam com uma pátria para os brasileiros, com regime republicano. A pátria chegou a existir durante 75 dias, com Presidente maçom, Ministério de maçons, constituição, abolição da escravatura,  universidade, liberdade religiosa e de imprensa. A dinastia Bragança mandou matar quase todos daquela geração revolucionária.
O Irmão Joaquim do Amor Divino, o Frei Caneca,  estava entre os  que sobreviveram. Foi, no entanto, desterrado para os calabouços de Salvador. Ele era um dos missionários da maçonaria. Em 1821 volta para Pernambuco, para seu Recife, onde vem a saber, em setembro de 1822, que D Pedro havia declarado o Brasil independente e que adotaria uma Carta Magna, elaborada pelos representantes do povo.  Mas em novembro do ano seguinte D Pedro fechava a Assembléia Constituinte, perseguia os Deputados, e outorgava uma Constituição, para a qual exigia juramento nas Províncias.
Pernambuco, de imediato, recusou-se a tal juramento. Melhor lhe pareceu  a resposta revolucionária da Confederação do Equador sob a presidência do maçom Manoel de Carvalho Paes de Andrade. E, da qual, o Maçom Frei Caneca fora o ideólogo e o maior de seus  líderes.
Era o fim do inverno de 1824 no Recife e também daquele movimento. Esquartejaram Pernambuco, roubando-lhe dois terços de seu território. Prenderam Frei Caneca e mandaram matá-lo. Arcabuzaram-no em 13 de janeiro de 1825, como se isto fosse seu fim. Nunca: Pois “O patriota não morre, vive além da eternidade”. Os escribas, dóceis ao Bragança,  omitiram, por muito tempo, das páginas da História do Brasil, esses e muitos outros feitos gloriosos dos pernambucanos, mas não conseguiram lavar o sangue dos mártires que coloriu as pedras das ruas do Recife, identificando-as  como travesseiros de heróis.
A maçonaria revela-se honrada por essa distinção com que a Prefeitura da Cidade do Recife nos trata, fazendo-nos parceiros  desta homenagem ao nosso Irmão Joaquim do Amor Divino, o Frei Caneca: poeta, escritor, gramático, professor, jornalista, maçom missionário, que ofereceu a vida, para que os brasileiros tivessem uma pátria, e fosse ela pelos brasileiros dirigida, respeitada no universo, povoada de pessoas dignas, educadas e felizes, pois é princípio da maçonaria tornar feliz a humanidade. O Frei do Amor Divino foi nessa construção, como  maçom que o era, um inigualável pontífice.
O Grande Oriente Independente de Pernambuco saúda Sua Excelência o Prefeito em querer, com sua valorosa e competente equipe, retornar o Recife à semelhança da pátria, de cujos primeiros passos foi gerador e palco, e em favor da qual o Irmão do Amor Divino, Frei Caneca, deu a vida. Um Recife bem dirigido, progressista, admirado, da paz,  cosmopolita, acolhedor,  para onde se queira vir ou em que se deseja ficar, em face do ambiente de felicidade que inspira.  O tempo é de amar Recife. Todos nós amemos o Recife.
A maçonaria está solidária com esse projeto inovador e se coloca ao dispor para a consecução das respostas a esse desafio.  Que Frei Caneca, o Irmão Maçom do Amor Divino, rogue por nós.
Boa sorte, Prefeito!  Que Deus o ampare nessa nova caminhada. (Informabim 326 B)


INFORMABIM 325 (A e B)



DESCONSTRUINDO O AMANHÃ
Irm Antônio do Carmo Ferreira

Estive atento, a todo tempo, na expectativa de uma notícia com que pudesse brindar meus irmãos maçons no fim deste  ano. Quem acompanha a luta da maçonaria, sabe que me refiro aos  assuntos pertinentes à  educação pública no Brasil. Mas as notícias que me  chegaram, são mesquinhas, e de  forma contrária não são as que decerto desejávamos. Ah! Uma exceção: escola pública do ensino fundamental, do município  de Quixaba, no interior remoto de Pernambuco, disputou, com suas similares do Brasil inteiro, o melhor nível de qualidade, e obteve o 1º lugar, confirmando a constatação do escrivão luso, circunstante do descobrimento do Brasil: “em se plantando, tudo dá”, até a falta de querer político e a má vontade manifesta quanto à educação pública que entre nós cresce celeremente.
As notícias do fim de ano são as mesmas que circularam o ano todo.  Não se prestam para lembranças natalinas, como desejava enviar, (infelizmente!), mas servem para reflexão. O PNE 2 travou no Senado (desde agosto), após dois anos na Câmara. É o plano da educação para nosso País, em dez anos: projetos, diretrizes, metas e meios, inclusive, os financeiros. Não há sinais de interesse por seu andamento na Alta Casa do Congresso. Pelo menos não os encontro na mídia. Enquanto isso a qualidade do ensino público no Brasil figura entre as piores do mundo, legando, a manter-se dessa forma,  um futuro sem alvíssaras a atual geração, onde estão nossos filhos e netos.
Pesquisa realizada, recentemente, em 40 países, pela conceituada empresa britânica de consultoria, a Economist Intelligence Unit, mostra o Brasil em penúltimo lugar na qualidade de educação. Ganha apenas da Indonésia e perde para a Colômbia, Argentina e Chile, pra não falar da Finlândia, Coréia do Sul, Hong Kong, Japão e Cingapura, detentores do 1º, 2º, 3º, 4º e 5º lugares no ranking, respectivamente.  Entrevistado, um dos principais dirigentes da pesquisa aponta dois itens como dínamos das melhores colocações nesse ranking: “1) a cultura da educação bem inserida na sociedade; e 2) a valorização docente, pois é pelo professor que a eficácia da aprendizagem é ampliada”. (DP 28.11.12, em Educação, o Brasil entre os piores).
O IBGE, no censo de 2010, não nos anima com os dados oferecidos nesse setor, ao contrário mais lenha bota na fogueira do descaso para com a educação e portanto para com o amanhã de nossos descendentes. Constata e divulga que “apenas 11,3% das pessoas com 25 anos ou mais tinham ensino superior completo no País; outras 49,3% não tinham sequer o fundamental” (JC 20.12.12) e somente 29% de todos os brasileiros eram plenamente alfabetizados. Também não basta ir à escola, e aí está um dos nossos maiores cuidados. Insistimos   na qualidade do que se aprende. Outro dia, a secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, informou que “71% dos empresários brasileiros têm dificuldades para preencher vagas, impedidos por falta de formação com qualificação dos candidatos”. (JC 18.11.12). Sinal de que,em breve, estaremos importando mão de obra, e os brasileiros, à margem, desempregados.
Tal deficiência no campo da educação mostra ao mundo um retrato horrível de nossa baixa qualificação para o trabalho, o que, se não melhora, prejudicará o crescimento do Pais e o bem-estar da Nação. Assinala a coluna JC Negócios que “o trabalhador brasileiro gera um quinto da riqueza de um americano” e cita mais outra cruel curiosidade: “numa fábrica de celulares com os mesmos equipamentos e condições de trabalho, um coreano produz 15 celulares por hora, contra nove do brasileiro”. (JC 22.11.12). Desejo oferecer um destaque quando me reporto à Coréia do Sul. Recordo que nos anos 60, já concluindo meu bacharelado em Ciências Econômicas , ouvia falar na semelhança do Brasil com aquele país asiático. Agora, por que tamanha diferença?  Responde o Diário de Pernambuco, após consultar três respeitáveis economistas: “A grande diferença que criou dois caminhos opostos para cada um dos países, foi o investimento em educação”. (DP 22.12.12, Cad de Economia).
É um preço muito alto que pagamos em dar curso à ignorância e aos poucos anos que passamos, ocupando os bancos escolares.  Em média, não temos ultrapassado os 5 anos de escola, enquanto, na maioria dos países desenvolvidos, a população chega aos 10 anos, destacando-se os  coreanos com 11 anos. Não quero mais me referir  à avaliação do PISA, porque me dá uma profunda tristeza. Mas não posso  calar, como não tenho calado reiteradas vezes,  perante essa maneira com que ora se despreza a educação pública brasileira, pois isto é não só um desrespeito à Constituição Federal (Art 205 ... a educação é um direito de todos), mas sobretudo um massacre a nosso Brasil, cujo amanhã (nem mais parece, porque a olhos vistos) se está desconstruindo.
(P.S.:)  O Correio Braziliense, de 30.12.2012, chega às bancas com a notícia de capa, em que a Presidente, em 2012, teria sido reprovada na condução da  educação. Segundo aquele respeitável Jornal, em reportagem da mesma data (págs 1 e 2),  um, em cada 2 brasileiros,  dá a seu governo esse desabono. (Informabim 325 B)

INFORMABIM 324 (A e B)



AS VIGAS MESTRAS DA MAÇONARIA
Ir Antônio do Carmo Ferreira

             Este é o título de uma das obras do talentoso escritor Jorge Buarque Lira, a respeito da qual apresentarei, linhas adiante, ainda neste texto, algumas impressões. Antes, porém, desejo conversar um pouco sobre reedições de livros que, na oportunidade do lançamento inicial, foram muito  importantes para o leitor maçônico brasileiro.
Sempre gostei de ler. Lia não somente livros didáticos mais de um em cada matéria, como também lia  os que de alguma forma tinham a ver com a formação religiosa a que eu então havia sido destinado. Eu era um estudante em regime de internato. E  fazia da leitura minha principal diversão. Recordo que a leitura da Bíblia, passava-me a sensação de um bem-estar inigualável. Seria capaz de trocar pelo almoço, por mais saboroso que ele fosse ou  ainda maior que fosse a fome em que eu estivesse. Eu ficava encantado com aquelas narrações. Era a descoberta de um maravilhoso mundo novo, que a leitura da Bíblia me proporcionava. Adquiri assim o hábito da leitura.
Com o ingresso na Maçonaria, minha leitura passou a privilegiar os livros que lhe diziam respeito. Os rituais e, em seguida, as obras referentes à doutrina, à ritualística e à história. Então a história que comecei a desbravar era aquela estória! A neblina dos tempos ... O avental e a folha de parreira ... A origem adâmica ... Os legados de Noé ... A construção do Templo de Salomão ... Narrações que não resistiriam às exigências da credibilidade. Tiradentes, como maçom, por exemplo ... Felizmente que não eram tantos os livros editados com estes conteúdos.
Aí conheci Xico Trolha e Castellani. Eles me alertaram. Das edições nacionais, convinha que eu pegasse a linha documentada. Não formasse estoque de saber alicerçado no “achismo”. De acordo, passei a ler Nicola Aslan e Teobaldo Varoli Filho, e os próprios Castellani e Xico Trolha. E todos os outros escritores de maçonaria aderentes a essa trilha. Nada de “acho que”, nem de que “o guru me disse”.  Graças a esse trabalho de Xico e Castellani, expostos nas Lojas, nos Congressos, nas suas colunas jornalísticas, em suas palestras, num esforço titânico nem sempre muito compreendido, é que se tem hoje, com certa evidência, a realidade da Ordem, sua trajetória, da origem aos nossos dias.
Em tempos recentes, a Editora Maçônica A TROLHA tomou a decisão de reeditar Nicola Aslan. É um benefício que proporciona à geração atual de maçons. Obras que respeitam a verdade e colocadas à disposição dos maçons leitores a preços favoráveis sem agressão ao bolso.
Soube no mês de agosto, durante Encontro maçônico, realizado aqui no Recife que a Editora A Trolha pretendia dar continuidade a esse projeto de relançamento de obras que teriam influenciado muitos e muitos ao tempo de sua edição. E que “As Vigas Mestras da Maçonaria” do Jorge Buarque  Lira estaria na vez. Beleza!
Conheço a obra, como conheço do mesmo autor Maçonaria e o Cristianismo. Vigas Mestras, li-o, faz uns 30 anos se não me falha a memória. Um tempão, heim, mas ainda recordo algumas de suas idéias. Era um momento em que se divulgavam muitas asneiras a respeito da maçonaria, e até se atribuíam coisas diabólicas a sua atuação. Prosélitos de uma determinada religião verberavam isto. Buarque era pastor de outra religião e mostrava nas “Vigas Mestras” que tudo aquilo de ruim que se dizia não era verdade. A Ordem, como assegurava Frei Caneca, na X Carta de Pítia a Damão, só faz o bem, e forma  seus adeptos no amor ao próximo para tornar feliz a humanidade. E nestes propósitos consistiam “As Vigas Mestras”. 
O Almirante Sodré, prefaciando essa obra, ressaltou que “suas páginas se assemelham a sermões e nelas tem-se muito a aprender. O autor empolga sempre pela sua veemência e sinceridade. Lendo-o tem-se a impressão de o ver falando, ferindo forte os erros com a sua expressiva impetuosidade”.
Jorge Buarque Lira amou a Maçonaria e isto se constata no ardor e na veemência com que a defendeu e divulgou. Num tempo em que as discussões a respeito da Ordem eram acirradas, e os opositores desejavam com afinco enfraquecê-la e desmoralizá-la. Quer dizer, varrê-la da face da terra, o que seria um grave e irreparável prejuízo para a evolução da humanidade. As Vigas Mestras, se reeditadas, trarão ao conhecimento desta geração maçônica  um acervo de informações sobre a crueldade que se praticou contra a maçonaria e a condição de perenidade que ela possui. Ou como se perguntava Howard, o autor de A Conspiração Ocultista,  “Por que, nada obstante esses séculos todos de existência, a maçonaria ainda desperta tanta paixão?!”
(Informabim 324 B)



INFORMABIM 323 (A e B)



Na prática, a teoria se confirma
Irm Antônio do Carmo Ferreira


            Em artigos publicados através do informativo da ABIM, edições de 15 e 31 de outubro próximo passado, referi-me à necessidade de a família participar da educação, não somente no recinto do lar, aí por razões óbvias, mas também na escola, especialmente integrando-se nos grupos conselheiros que auxiliam os gestores no ensino público. Os artigos foram “Órfãos de pais vivos” e “Família e educação”.
Neles, tive a felicidade de aludir a esse papel benfazejo da família, que não deveria ser uma opção, mas uma obrigação com, inclusive, o entendimento de que deveria haver severa punição aos omissos. Aliás, nessa trilha segue a Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, ao insistir, vezes sem conta, ser a educação um empreendimento de tal magnitude e importância que vai além dos limites do governo. O mesmo que chamar a sociedade toda à participação, primeiramente a família, em cujo seio se transmitem os bons costumes e se implanta a formação cidadã.
Também não deixar de realçar a colocação constitucional, quando no artigo 205 da Constituição Federal de 88, coloca-se explicitamente que “a educação é um direito de todos” e que a obrigação de proporcioná-la é competência do Estado e da Família. Está, portanto, explícito o caráter obrigacional da família nos afazeres da educação. E, neste particular, o constituinte e os intérpretes da Constituição foram bastante claros quanto à obrigação estabelecida na Carta Magna (Art.205). Não quer dizer com isto que se dispensem  outros compromissos, como, por exemplo, o religioso, da continuação da obra do criador delegada aos pais, que exige a formação de seres humanos voltados para a prática da virtude.
A mídia, em seus jornais impressos, de rádio e de televisão, também da internet, tem sido farta, em noticiar um feito exemplar alcançado por uma escola do interior do Estado de Pernambuco.  A Escola Estadual Tomé Francisco da Silva, fundada há 20 anos, e situada em Lagoa da Cruz, zona rural do município de Quixaba. Sua matrícula chega a 800 estudantes que se distribuem do 1º ano fundamental ao 3º ano do ensino médio. Concorreu com quase 10 mil instituições de ensino de todo o Brasil e ganhou o 1º lugar com o Prêmio de Gestão Escolar 2012, consagrando-se como “Escola Referência Brasil  em gestão escolar e experiências inovadoras na educação”.
Após a anunciação do prêmio (05.11.2012) em São Paulo, presente o dr Anderson Gomes, Secretário de Educação do Governo de Pernambuco, disse à imprensa que “a conquista da escola foi garantida graças ao envolvimento dos pais dos alunos nas atividades da instituição ...” Também presente ao evento e consultado, registrou o educador Ivan Nunes, gestor da escola há 13 anos, que “o trabalho em equipe colaborou para a conquista”, mas “os pais têm muita parte nisso, sempre contamos com muito apoio da família”. (Jornal do Commercio, Recife, ed 06.11.2012)
O Prêmio de Gestão Escolar é promovido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação em parceria com instituições governamentais e organizações não-governamentais, e se propõe a estimular a colaboração da comunidade para com a melhoria da qualidade da educação pública brasileira. A premiação da Escola Estadual Tomé Francisco da Silva torna evidente e relevante a participação da família na qualidade da educação e demonstra que na prática, a teoria se confirma.
(Informabim 323 B)
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INFORMABIM 322 (A e B)



Dia da imprensa maçônica no Brasil.

Corria o ano de 1991.  Xico Trolha estava no Recife desde o dia 10  de novembro. Viera de Londrina  na expectativa de ver as ruínas do  Senado da Câmara, o  Mercado da Ribeira e as ladeiras de Olinda.  Em 1710, no dia 10 de novembro,  no Senado da Câmara, falou-se  de  independência  na  Colônia. Sonhos!  Bernardo Vieira de Melo que havia governado  o Rio Grande do Norte, teatralizou aqueles sonhos.  Deu o primeiro grito de República nas Américas. Seu gesto valeu-lhe a vida. Morreu nos calabouços do Limoeiro, nas cercanias da Corte. Porém não foi em vão. “A República é filha de Olinda”, lembra o hino de Pernambuco. Xico queria ser fotografado ali, frente às ruínas. E foi.
Queria mais: sentir o aroma que vinha das flores regionais, trazido pelos ventos  soprados dos bosques, onde eram escondidos os escravos, para, em algum momento, serem expostos e negociados no Mercado da Ribeira. Xico, como todos os maçons, sentia náusea, bastava lembrar da escravidão ...
Certa feita, um poeta local falara para o Xico que as ladeiras de Olinda, de tão íngremes, pareciam, no topo, furar as nuvens, e, vistas do pé, mais se assemelhavam a escadas do céu. E ele, ao constatar isto, dizia-me: “Quando me indagarem sobre a Escada de Jacó, vou responder que lembra as ladeiras de Olinda que esbarram na porta do céu”.
Dia 11 de novembro, já estávamos reunidos no Recife:  Xico Trolha, Carlos Pacheco e Castellani. Eles eram meus convidados. Eu, proustianamente inspirado, estava “à procura do tempo perdido” com referência à aprendizagem maçônica. E aqueles irmãos e amigos sabiam muito e sempre se prontificaram a me indicar os caminhos, não “os de Suwam”, mas os da arte real.
Tínhamos um projeto comum. Insistir na união dos irmãos, pois é nesse estado, que “acontecem o bom e o suave”.  Para a consecução desse objetivo, sabíamos da espessura dos muros que haveriam de ser demolidos. Mas não importava o esforço, por maior que fosse. Importante mesmo e gratificante era antever a cadeia de união resultante e proporcionada pelas pontes construídas.
Veio então a ideia de se iniciar esse trabalho, gerando-se uma  associação dos produtores de notícias dos feitos da Ordem. Unanimidade! Não só produzir, mas divulgar e, nessa atividade, estimular o acompanhamento do progresso na arte da comunicação. Eram 12 de novembro, data que não nos pareceu propícia ao evento de anunciação do nascimento de uma associação do porte daquela que vinha de ser fundada. Pois em 12 de novembro de 1823, militares armados cercaram o prédio, onde estavam reunidos os Deputados que elaboravam, no Rio de Janeiro, a 1º carta magna de nossa Nação, e por decisão de S.M.I. ficava dissolvida a Constituinte.  Data de  tristes lembranças ...!
Dia 13 de novembro de 1991, no Templo da  Loja Maçônica “10 de Novembro de 1710”, a 33 metros das ruínas do Senado da Câmara, em Olinda, pelas 20 horas, com o ocidente e o oriente completamente preenchidos por irmãos maçons, foi anunciada a fundação e instalação da Associação Brasileira da Imprensa Maçônica – ABIM.
São decorridos 21 anos, tendo a ABIM cumprido seus objetivos. Associados em todos os recantos do Brasil e de todas as Potências Maçônicas. Revistas modernas, editoradas nos padrões tecnológicos mais avançados. Boletins e jornais produzidos em grau de excelência. Encontro nacional de seus dirigentes, todo ano, renovando os ideais na exaltação à cultura maçônica. Em 2013, quando se forem “as águas de março”, estaremos em Belo Horizonte  com o povo maçônico, os jornalistas, os pesquisadores, os escritores, os imortais acadêmicos realizando o XVIII Encontro Nacional.
             Cumprimentamos todos os associados da ABIM, com a mesma certeza com que James Anderson compilou as Constituições: “A Maçonaria é um centro  de união”.Xico e Castellani, rogai por nós!
     Salve 13 de novembro, dia nacional da imprensa maçônica!
                                         
                                              Irm Antônio do Carmo Ferreira        
                                                       Presidente da ABIM.

INFORMABIM 321 (A e B)



FAMÍLIA E EDUCAÇÃO
Irm Antônio do Carmo Ferreira

             Sobra razão no entendimento do constituinte de 88 ao incluir, na responsabilidade pela educação brasileira, não somente o Estado, mas também a FAMÍLIA, e não falava no papel desta como um gesto complementar, senão ao nível de uma parceria. Quero crer que não poderia jamais ser diferente, porque o procedimento educacional se inicia no âmbito da família.
É no seio da família que começa tudo, da aquisição das boas maneiras (ou más) aos primeiros passos da formação cidadã.  Tão evidente e tão sério este fato que Ruy Barbosa, nos albores do século XX, dava à família a condição de síntese da pátria. O estado de saúde ou doença da pátria, nos seus ensinos e conclusões, seria uma ampliação da higidez da família, “multiplicai a célula e tendes o organismo; multiplicai a família e tereis a Pátria”.
Recordo o Jornal do Commercio (Recife), em seu editorial de 13.02.2007, onde presta valiosa contribuição ao discernimento do papel da família, responsabilizando sua indiferença ou sua desagregação pelas piores mazelas que afligem os adolescentes. Excerto do editorial: “a família deve continuar sendo a fonte mais saudável na formação da criança e do adolescente, do seu caráter, de sua realização como cidadão e pessoa humana. É a primeira escola de valores. O ensino formal e a pregação religiosa ou cívica só vêm depois, quando o arcabouço da personalidade já foi modelado pelos pais.”
Na atualidade brasileira, em que predomina a pobreza e, para muitos, escasseiam as finanças e o saber, (pois segundo o Inaf só 27% dos brasileiros são plenamente alfabetizados, mesma posição de 2001) e em conseqüência disto diminui a qualificação profissional, levando os pais a permanecerem mais tempo nos postos de trabalho com vistas a obtenção de um acréscimo no ganho, os filhos ficam em casa ao Deus dará, as crianças mais novas aos cuidados das crianças mais velhas, que deixam de ir à escola para,  em casa, cuidarem dos menores. A 7ª economia do mundo que se jacta dessa condição, deveria mesmo era  se envergonhar do estado em que se acha a educação pública, sobretudo no que tange ao ensino médio.
É preciso, diante disto, que se encontrem formas auxiliares com que se tente corrigir esses descaminhos. Cobrar-se, por exemplo, do governo a existência da escola em tempo integral, com ensino de qualidade e cursos profissionalizantes. Mais ainda: que exista nela uma assessoria aos gestores, e os pais tenham presença cativa nessa assessoria, não só para as sugestões, mas também, para ali, poderem acompanhar a formação de seus filhos. Um novo e admirável papel da escola, com a assistência da família. Uma contribuição à prática e à eficácia da futura lei da responsabilidade educacional.
Outro papel, para os pais, nestes tempos da cibernética. A garotada  está ligada nas redes sociais, se não pelo notebook ou  pelo iPad, mas pelo celular, pelo computador. Torna-se uma exigência para os pais, em face disto, estarem senhores desses meios de comunicação, para o acompanhamento da vida dos filhos. O computador pode não estar em casa, mas está disponível na lan house que, hoje em dia, ampliou suas funções, passando a ser também um ponto de encontro social.
É o espírito do tempo que agora, mais que nunca, em virtude da velocidade no campo da inovação e do progresso  tecnológico, exige mais comprometimento da família. Do gesto de amor da família para com os seus descendentes, e com a Pátria, porque a indiferença (que será uma irresponsabilidade) abrirá espaços a veredas perigosas por onde já perambulam milhares de jovens sem rumo nem futuro, desabrigados e desamparados, com recurso às drogas e apelo à violência, órfãos de pais vivos, ou como se expressou  o Senador Marco Maciel, em memorável discurso de texto publicado no Diário de Pernambuco edição de 15.01.1994: portadores da “síndrome da personalidade sem afeto”. Cabe refletir: “A educação, um direito de todos, é dever do Estado e da Família...” CF, Art.205. (Informabim 321 B)

terça-feira, 26 de março de 2013

INFORMABIM 320 (A e B)



ÓRFÃOS DE PAIS VIVOS. Responsabilidade de quem?
Irm Antônio do Carmo Ferreira

             Comentarista do artigo 205 da Constituição Federal (do Brasil) revela-se de grande acuidade patriótica ao chamar a família à responsabilidade, quanto a seu papel na educação. O artigo 205 estabelece que “a educação é um direito de todos”, mas que há uma responsabilidade em proporcioná-la por parte do Estado e da família. O Comentarista, por sua vez, destaca a função da família, ao entender que a educação é um bem de tamanha importância que o Estado não pode ficar sozinho nessa atividade, sendo a família seu parceiro indispensável no empreendimento.
Trilha semelhante tem percorrido a maçonaria da COMAB,  no gesto de suas convocações, não somente no seio templário, mas também perante a comunidade profana. Antes e agora. Em seus catecismos de ensino ao povo maçônico, e em suas “cartas”, resultantes de seus Encontros e Assembléias, endereçadas à população e às autoridades. Especialmente nestes tempos em que um novo Plano Nacional de Educação tramita no Congresso Nacional, tão vagarosamente que parece soprado pelos ventos da má fé. Grita a COMAB, um grito de horror, mas da maior compreensão e  chamamento: “a execução educacional é grande demais para ser responsabilidade apenas do Estado”.
Conversando sobre o óbvio, quero dizer que não é por isto, por essa responsabilidade, que cada um de nós vai sair por aí instalando uma escola e fazendo-a funcionar. Seria bom, mas não é bem isto. A ação não reside somente no executar. Há no seu empreender, dois outros segmentos: o do planejar (com o estabelecimento de metas e o condicionamento de meios) e a avaliação (onde se releva a consecução das metas, e se denunciam os desvios, seja por omissão, seja por propósitos malfeitores). Pois o “vigiar” vem das sagradas escrituras, tendo ganhado dimensão de suma importância em nossos dias, em que a corrupção se alastra e se entranha velozmente e se apodera do tecido político brasileiro.
 É preciso que não somente o Estado
mas todos nós estejamos atentos. Não foi por acaso que se tornou necessária a vigilância em torno da execução do PNE 2. O mundo pedagógico brasileiro entende que o PNE 2 será apenas uma carta de intenções, a mercê de toda  espécie de vicissitudes, se colada com ele não vier uma lei de responsabilidade educacional. E tão veemente foi a constatação que o Governo enviou ao Congresso projeto de lei nesse sentido, que ora se encontra em Comissão Especial  na Câmara dos Deputados, sendo seu Relator o Deputado Raul Henry (PMDB/PE).
Em recente encontro maçônico, na cidade do Recife, o doutor José Simioni, Grão-Mestre do Grande Oriente do Estado de Mato Grosso e Presidente da COMAB, fez um duro pronunciamento de convocação a todos os maçons do Brasil, reiterando o compromisso para com a melhoria da qualidade da educação pública e da carência de inclusão de todos no gozo desse benefício e não somente uma parte dos brasileiros, os que podem pagar por sua aquisição. Presente estava o Deputado relator do projeto de lei sobre a responsabilidade educacional, um jovem comprometido com o progresso de nossa Pátria e com o respeito à dignidade das pessoas, e louvou Sua Excelência e testemunhou o papel da maçonaria em favor da educação. Temos “mil razões para acreditar”, e se todos derem as mãos, numa forte cadeia de união, “de repente vai ser aquela corrente pra frente” como sugeriu o autor do hino, colimando-se os resultados que almejamos.
O exegeta do artigo 205 da Constituição Federal, ao convocar todos e cada um para o trabalho da educação, responsabilizando assim não somente o Estado, vem ao encontro dos anseios da maçonaria da COMAB, que tem no topo de seus objetivos “tornar feliz a humanidade”, evitando, ao menos, o correr na face da lágrima de ver, despejados nas ruas desse imenso Brasil, tantos órfãos de pais vivos, como à falta de educação para todos, hoje se vêem.  (Informabim 320 B)

INFORMABIM 319 (A e B)



GOEMT 40 anos
Irm Antônio do Carmo Ferreira

             Tenho contado com a amizade e a consideração de muitos dos irmãos inte-grantes do Grande Oriente do Estado de Ma-to Grosso e agradeço ao Grande Arquiteto do Universo por ter me permitido ser possuidor de tamanha deferência.
Amizade de irmãos que ocuparam a mais alta liderança desse povo maçônico, como Nilson Constantino, Anselmo Falcão de Arruda, Amaziles de Lana Primo, José do Carmo Ferraz, Manoel Granja  e de outros que ainda se encontram na luta como Ananias, Ferreira Leite, Evandro Xavier, Ivo Cuiabano, José Simioni, Medson Janer, Antônio Horácio. Nomes dos quais ora me lembro, mas que são pouquíssimos diante dos muitos que tanto me consideram e me distinguem com a alegria de nossos encontros e reencontros.
Estive em Cáceres, num momento de muitas comemorações da Loja Maçônica daquele oriente, sendo o orador da solenidade (100 anos). Meu Deus! Que recepção e que festa! Estive em Rondonópolis, também como orador de uma das solenidades de sua Loja. Como estive na Acácia Cuiabana, máter do GOEMT, como orador em um dos seus inesquecíveis  aniversários (o centésimo), sendo Venerável Mestre o ilustre irmão Ivo Cuiabano.
Não posso deixar de fazer recordação de minha presença nas Assembléias de Posse dos IIr.’. Anselmo Falcão de Arruda e José Simioni, na Presidência da COMAB, e no Encontro Nacional da Cultura Maçônica, durante o qual tive a honra de conceder o prêmio Troféu Imprensa Maçônica ao jornal ALAVANCA, editado sob a responsabilidade do GOEMT, do qual então era Grão-Mestre o  Irmão Ferreira Leite. São tatuagens marcadas em minhas lembranças que mais tintas ficam com o passar do tempo.
Agora, o Grão-Mestre José Simioni  fala, aqui no Recife, em reunião dos Grão-Mestres do Nordeste, a respeito dos quarenta anos de fundação do Grande Oriente do Estado de Mato Grosso e me revela, depois, que a Potência Maçônica que preside, editará livro com alguns trabalhos da lavra de seus Obreiros, peças de arquitetura que simbolizem os sonhos da Instituição e  propostas de seus autores, que uma vez efetivadas, contribuirão decerto para a colimação dos mesmos. Depois o Professor Medson, com a sua capacidade de síntese e o manejo da excelência didática de que Deus o privilegiou, colocou-me a par do conteúdo dos trabalhos. Fiquei maravilhado com aqueles ANAIS, e até os chamaria de ANTOLOGIA pela beleza do traçado e da profundidade das mensagens que encerram.
A COMAB assume um projeto e monta uma Escola para a Formação de Lideres Maçônicos. São o exemplo  e a con-tribuição que, a um só tempo, ilustram os seus quadros e chamam a atenção do povo brasileiro para a urgente necessidade da melhoria da qualidade da educação, segundo as exigências do progresso agora e em cada tempo. O GOEMT faz a sua convenção neste sentido, com sucesso pleno e absoluto, anunciando seus educadores e respectivos sonhos.
Os ANAIS: importa  que eles sejam publicados. E vão ser publicados. O Grão-Mestre José Simioni, ao assim decidir, lembra-me de ensinamentos dos evangelistas Mateus (5, 15), Marcos (4, 21) e Lucas (8, 16). Eles pregam a respeito do saber e comparam-no com a “candeia acesa”. É o saber  um bem que deve ser proporcionado a todos. O contrário do saber é a  ignorância – “mãe de todos os vícios”.  E por isto deve ser combatida, sendo seu viés – o analfa-betismo -  erradicado sem trégua nem con-cessão. A maçonaria, fiel a seus princípios, faz isto a todo instante.
Os ANAIS que o Grão-Mestre José Simioni tem a santa iniciativa de mandar publicar, são lampiões que clarearão os caminhos indicadores da construção de melhores e felizes tempos para a huma-nidade e simbolizam o trabalho fecundo a que se propôs e empreendeu o GOEMT ao longo dos 40 anos de existência.
Rogo a Deus, para o GOEMT, seu Grão-Mestre e seus Obreiros, a bem-aventurança destinada aos que “tendo a candeia acesa, não a puseram sob a cama, mas ao contrário colocaram-na no centro da sala”, de modo que o clarão aos muitos beneficiasse. A festa é do GOEMT, mas o presente será da Maçonaria brasileira. (Informabim 319 B)

INFORMABIM 318 (A e B)



A FÉ E AS OBRAS
Irm Antonio do Carmo Ferreira


             Tenho lido, em textos produzidos por maçons, que, conforme seus estudos , o mundo é governado por um conjunto de forças que só não mais são ocultas, porque a maçonaria as descobriu e passou a ser sua maquinista.
Nem municiado da fé que move montanhas eu acreditaria nisto. Pois estando no seio da Ordem há mais de 40 anos, não tive acesso a essas forças. E vejam que tenho ocupado cargos importantes! Mas, sabem!, reza o ditado popular: “para cada cabeça um mundo”. Vai ver que as forças existem e  a senha de acesso  às mesmas passou e, na oportunidade, eu estaria dormindo...
Às vezes fico a pensar que essa invencionice de forças ocultas é obra da antimaçonaria, engenhada para contaminar maçons despreparados e com isto levar a Ordem ao deboche da sociedade culta.
Essas forças, convinha até que  existissem, porque, com elas sob seu comando, ficaria mais fácil para a maçonaria  implantar, no mundo, o reinado de paz e o progresso da humanidade em geral. Mas não. A sua existência é anunciada para eliminar altos escalões. Ceifar vidas. Tudo que não é a Ordem.
O eminente escritor Ambrósio Peters exige que a maçonaria seja respeitada por tudo com que  tem contribuído, ao longo da história das civilizações, para a evolução da humanidade. E reprova essas invencionices como denuncia a má fé com que agridem a Ordem, atribuindo-lhe caráter de maldades no exercício de suas funções. Alerta o grande pensador maçônico para o fato de que se isto fosse verdade, a mídia jornalística, ávida deste tipo de notícia e dotada, em nossos dias, dos mais avançados instrumentos de pesquisa,  já teria colocado pelo avesso e desmoralizado tal ocultismo.
Confesso-me preocupado quando ainda leio ou ouço alguém referir-se a forças ocultas que governam o mundo sob o comando da maçonaria e de qualquer outra instituição.
Nós precisamos, e já, é exorcizar o espírito da preguiça do seio da Ordem, porque o danado desse espírito é que tem sido a causa de todos esses males que nos afligem.
Recordo que no ano de 2008, o irmão Giovani Souto defendeu tese de Mestrado dissertada perante o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa, na Capital portuguesa, que foi aprovada.  Aí ele faz uma espécie de gozação com os que tentam o ilusionismo de apresentar a Ordem como uma organização secreta. Ressalta que esta não é uma postura correta e sim que “os templos precisam aparecer para a sociedade, demonstrando-se que inexistem rituais macabros ou cultos a divindades. O que existem são estudos morais e filosóficos e a prática do bem e de amor ao próximo.”
Continua que “não adianta calar-se diante de notícias incoerentes e preconceitos sobre essa instituição universal”, passagem que me fez lembrar o irmão Luther King ao lhe ser atribuída a advertência de que “a preocupação não deve estar no grito dos maus, mas no silencio dos bons.” “Uma melhor qualidade nos serviços ofertados pela Maçonaria, prossegue o Irmão Souto, começa por uma boa publicidade. A boa comunicação é um meio de sobrevivência dos bons princípios”.
Há nessas conclusões do mestre Giovani Souto dois tópicos que devemos pinçar: “serviços ofertados pela maçonaria” e “boa publicidade”. No primeiro caso, “os serviços”.  Deixa significar que existe algo material a ser implantado em algum lugar, na comunidade, por exemplo. Algo de amor ao próximo que labore em favor do progresso, do bem estar, da felicidade. E que, como reza o segundo caso, todos sejam informados, através de “uma boa publicidade” de tal procedimento por parte da maçonaria. Pois os “bons princípios”  necessitam da “boa comunicação” para que sobrevivam e se desenvolvam.
A maçonaria nunca foi uma instituição voltada para dentro. Construtora de muros dentro dos quais escondesse o produto de sua ação. Foi e deverá  ser sempre construtora de pontes através das quais pudesse levar o progresso e a felicidade aos muitos. Os aquedutos, os Palácios, os Mosteiros, as Catedrais são algumas provas disto. É verdade que há um procedimento para adoção de seus adeptos e uma pedagogia para formação dos mesmos. São procedimentos e pedagogia que só interessam aos que se “iniciam”, daí o caráter templário de sua transmissão. Mas a prática do saber maçônico, esta é de aplicação na comunidade. A Loja maçônica não é o limite. E sim a vertente.
Tiago, o apóstolo, com as suas missivas, criou uma escola. Ele ensinava não bastar possuir o sentimento do amor. Pois era preciso amar. Como a parábola do semeador. Não bastava possuir o diploma, era preciso sair a semear. E até parecia irritado com os que se contentavam apenas com a fé. Ele exigia mais e dava sentença aos que insistiam na limitação – “a fé sem as obras é coisa nula”.
Em nosso caso, é preciso, já, entusiasmar o maçom quanto ao exercício de  sua função de Construtor Social. Pois “de que vale a fé sem as obras” ?  (Informabim 318 B)