quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

INFORMABIM 380 (A e B)


NA TRAVESSIA DO MAR VIVO
Irm Antônio do Carmo Ferreira
 


 
 
Comparando, comparando ... o viver parece-me bastante com a travessia de um mar vivo. Sem calmarias. Sempre revolto. E povoado de monstros marinhos. É isto, com um pouco menos de exagero. Mas que um mar vivo,  revolto e sem calmarias, é o que se oferece ao viver.  Ah! Isto é.
A maçonaria tem esta percepção, quando adverte o candidato que pretende ingressar em suas fileiras. Há um compromisso do candidato para consigo mesmo, em se adequar à filosofia da Ordem, além das obrigações para com o amor a Deus e ao próximo;  à dignificação da família e ao zelo da pátria. Calmaria é prêmio. Só depois.
Se a proposta é mudar o mundo viciado e agônico,  injetando-lhe vida nova, torna-se necessário formalizar as pedras segundo às exigências do espírito deste novo tempo. E o construtor social precisa esculpir-se. A começar por si próprio, porque se não sou capaz de mudar a mim mesmo, falecer-me-ão, por assim entender, as condições da prática da mudança de meu entorno.
Era o conselho do Templo de Delphos: o nosce te ipsum, ou seja,  conhece-te a ti mesmo”. Para isto é preciso seguir o caminho do VITRIOL: voltando ao interior íntimo, pois lá é que se encontra a pedra filosofal, a decifração das coisas. Acontece que dizer isto é muito fácil. Difícil é a prática. E tome mar revolto ...
Mas insistir é preciso. Sempre lembro o poeta maranhense, para quem “viver é lutar” e que esta luta “aos fracos abate”, no entanto “aos bravos e fortes, só faz exaltar”.
O certo é que “o compromisso para consigo mesmo”, a que se reporta a maçonaria, passa por aí, pelo enfrentamento das dificuldades. Entretanto a Ordem maçônica não deixa o seu integrante sozinho, considerando que o homem é um ser social. Criou a Loja, como a “escola de conhecimento”, ou o lugar aonde vão os maçons para, fortalecidos pelo orvalho da união,   se  estimularem   uns  aos  outros   na
prática da virtude.  E    adquirirem  o hábito de combate às suas paixões e da submissão de suas vontades.
Do lado de cá está o meu acampamento inicial. Minha vida é minha missão. E minha missão é contribuir efetivamente para com o fazimento do lado de lá. Se não houve esta contribuição, “fui só espectro de homem”. Pois em plácido repouso adormeci, mas  apenas “passei pela vida, não vivi”, como sentencia o poeta carioca Manuel Otaviano.
Hegel entendia ser muito pouco ou nada contributivo o deixar tudo como está. Vem uma geração, vem outra e outra mais, todas se vão, e tudo fica como foi encontrado. E a evolução? Cadê o compromisso para com a evolução? Ou não há tal compromisso? Gente de “pensamento pensado”, dizia ele. Agora quer ver o filósofo alemão melhorar de tom? É somente ler a respeito das gerações que receberam o acervo cultural e penetraram suas entranhas. Dissecaram-no. Conheceram suas pos-sibilidades de melhorar. E acrescentaram estas melhorias, dando-se em decorrência disto o surgimento de “um maravilhoso mundo novo”. Esta é a obrigação de cada geração. Legar à próxima “um maravilhoso mundo novo”, expressão devida a Aldous Huxley. Hegel filosofava de “pensamento pensante” quem contribuía desta forma.
Todavia, não mais existe aquela história de maná caindo do céu ao amanhecer do deserto. Se quisermos possuir o maná, temos que fabricá-lo. Meter a nossa mão na massa. Submeter nossas vontades. Vencer nossas paixões. Senão a evolução não vem. E a construção social não acontece.
O lado de lá (lembram Canaã?) é um pós-mar vivo. A missão do viver é atravessa-lo. É chegar lá.  Percalços! Eles devem de haver.  Aí não esquecer Moisés. Medroso e com dificuldades até no falar, temia por sua missão. Mas o Grande Arquiteto do Universo sempre lhe garantia, como decerto garantirá a todos que honram seus compromissos: “Eu serei contigo”.(Êxodo 4, 12 e 4, 15)...............


 

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