“QUE VINDES AQUI FAZER?”
Irm.: Antônio do Carmo Ferreira
Ensinamentos atribuídos a Sêneca e que chegaram até
nós, decerto por sua grande valia em todas as gerações ao longo desse tempo,
deixam evidente a preocupação do filósofo com a destinação do viver. Nenhuma
concessão parece fazer ao descaso e, ao reverso disto, concentra-se em
acentuada atenção para com os passos seguintes, como se a vida fosse, e de fato
é, uma corrida, para cuja vitória o corredor se acercasse dos meios e
condições, comprometidos com os melhores
resultados. Sêneca chamava sua própria atenção para este zelo, ao ensinar que
“ao marujo que não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe sopra
favorável”.
No trato deste cuidado, há um empate do filósofo com o
santo – Agostinho, o Bispo de Hipona – que ensinava ser a “vida uma
peregrinação de retorno à Casa do Pai”, em estrada de muitas pedras e
obstáculos, cuja superação, decerto,
exige firme desejo, determinação e, quase
sempre, a humildade da procura e aceitação da mão amiga.
Segundo uma e outra ótica, é preciso terem objetivos:
as pessoas que caminham, como as organizações que auxiliam. Para as
organizações, os responsáveis por sua existência estabelecem as finalidades. E
as alcançam através da realização de projetos que são estabelecimento de metas
e condicionamento dos meios. Nenhuma organização adquire seu caráter legal de
existência, se não tivesse explicita uma finalidade.
As pessoas, obviamente, não se conduzem como manadas de búfalos. Cada
pessoa, ao perceber a sua vocação, deverá dar sentido especial ao curso da
mesma, aprimorando-se para que ela seja uma alavanca de seu progresso e do bem
estar do próximo.
É acaciano entender-se que o “maná” não tem chance de
voltar a cair do céu. Para alimentar-se dele, a pessoa terá que procurar os
ingredientes e cozinhá-lo aqui na terra. Esperar o bafejo da sorte é empresa
do-quase-nunca, pois ganhar nas loterias depende de longínquas probabilidades.
E, mesmo assim, a persistência nesse exercício se tornaria um objetivo do ser
vivente...
Respeitada a vocação, cada pessoa traçará o seu
destino, estabelecendo as opções para o seu viver. Projetos de vida, em que se
procure definir, no mínimo, o que, como,
com que, quando e onde realizar. Por
isto é que se diz que uma pessoa é um “maria-vai-com-as-outras” ou, ao
contrário, é “uma pessoa determinada”. “Sabe o que quer” e luta por conseguir.
Tem metas e sabe alocar os meios para consecução das mesmas. E nestes tempos de
tanto dinamismo nas comarcas da tecnologia, terá de caminhar mais veloz que os
acontecimentos.
A maçonaria não quer que seu adepto seja um bote
largado aos influxos das marés. E é incisiva nisto. Cada Loja Maçônica deverá
ter um projeto com o qual estejam seus
membros envolvidos, de modo que nenhum deles seja um viandante sem entusiasmo e
sem rumo, no deserto, à mercê do prestígio mosaico junto ao Criador. Se alguém
não se dispõe a trabalhar, sequer faz jus ao que comer, como se irritou o
apóstolo Paulo ao escrever à comunidade cristã da Tessalônica. Quer dizer: não
ter compromisso com o amanhã é esvaziar o significado do hoje.
Não é porque seja lindo o frontispício do Templo, que
o maçom visitante conhecerá, por dentro o edifício... Por isto se algum lhe
bate à porta, só participará de suas atividades, justificando o objetivo da
visita.
Que vindes aqui fazer? Aqui na terra. Aqui na vida.
Aqui no dia-a-dia. Aqui na atividade que em dado momento vai empreender. Esta é
a pergunta chave. Pois a resposta sempre coincidirá com a busca incessante de
meios para tornar a vida um instrumento da maior utilidade para seu possuidor e
para quantos dela se acercam.
O maçom se compara a uma pedra informe, bruta, com
saliências cortantes... O mérito consiste em não aceitar tal modelagem. Admite
que o ser assim é um desafio. Quer ter forma polida, como se fosse destinado à
conclusão da mais linda das construções.
E se esforça para colimar tal objetivo. Primeiro,
lapidando-se a si mesmo, dando curso a um conselho que lhe veio da filosofia remota
do Templo de Delfos, em cujo arco de acesso se lia: “conhece-te a ti mesmo”. “Vencer as paixões e
submeter as vontades” não serão tarefas fáceis, mas são objetivos da formação
do maçom. Para isto, ele vai ao Templo e no aconchego dos irmãos encontrará
meios valiosos e fortalecedores para a realização desse projeto.
Segundo, alcançando progresso, o que ele o repartirá
com o próximo. Pois o bem só será de total valia se repartido com os que dele
necessitam. É só reparar na parábola dos talentos. Os que os recebendo e
colocando na botija, foram severamente punidos.
Cabe a cada um dizer não ao
deixa-como-está-pra-ver-como-será, antes de dar o próximo passo. E indagar a si
próprio, se as conseqüências são de utilidade para si e para o próximo. Porque
“serve a Deus quem vive na virtude, foge
do vício e pratica o bem”, aconselhamento aos aprendizes maçons que bem pode orientar
na obtenção da resposta ao questionamento antes apresentado: “QUE VINDES AQUI
FAZER?”
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