VITRIOL, um tônico rejuvenescedor
Irm Antonio do Carmo Ferreira
De quando em
vez tenho me surpreendido com a lembrança daquele “sim” que se costuma dizer,
alto e bom som, no comecinho da carreira maçônica, quando o candidato é todo
emoção, envolvido na cerimônia, de cujo
fascínio sequer fazia idéia e culmina em sendo ele mesmo o especial
protagonista. Refiro-me à indagação: “desejas esquecer tua vida profana, submetendo-a aos costumes da vida maçônica?” que se completa
com a resposta “sim”do iniciando.
Este é um
passo tão decisivo que, no meu modo de pensar, se lhe deveria dar uma ênfase
extraordinária. Muitos estão de acordo e até são mais exigentes, entendendo que
o candidato, mesmo nesta condição, deveria
ter a sua atenção despertada para a importância dessa parte da cerimônia de
ingresso na Ordem. Como o maçom, deveria
refletir, a respeito da seriedade desse
compromisso, não somente durante sua permanência nos bancos do aprendizado, mas
qualquer que fosse a “sua idade”.
Os ritos que,
no seu procedimental, incluem a Câmara de Reflexão, oferecem a seus candidatos
os benefícios que este dispositivo proporciona. O candidato, ali recolhido,
distante de todos, sem a influência de
estranhos, está em companhia apenas de sua consciência. Palavras escritas,
figuras, objetos, substâncias têm o objetivo de lhe pedirem a atenção para um
novo modo de viver. E ele
decerto se reencontrará consigo mesmo – nosce te ipsum, quando então virá á sua
mente a lembrança de que a vida é uma missão, para cujo exercício ele está fazendo nova opção naquele
momento. E se a opção é sincera, sua atenção, de pronto, se aguçará para a absorção dos princípios que dali em
diante lhe haverão de ser ensinados. O
“sim” de sua resposta, embora motivado pela indagação, obedecerá não àquele comando, mas
aos ditames de sua consciência.
O sábio Nicola
Aslan (Grande Dicionário Enciclopédico, vol I pág 196, Editora Maçônica A
Trolha Ltda, Londrina/Paraná) diz assim:
“O candidato, logo de início, é introduzido neste lugar de meditação
(a câmara), para entender que o homem profano deve morrer naquele lugar”. O
candidato confirma isto ao subscrever um testamento. A primeira prova a que é
submetido, ali no interior da “terra”, de onde veio e para onde seu corpo voltará, conforme ensina
o autor de Eclesiastes . As grandes árvores que povoam as florestas também
foram assim. Vieram de sementes que no colo da terra se anularam, dando origem
às mesmas. Em seu testamento, o candidato antecipa e sela compromissos, como
amar a Deus, a Pátria, a família, ao próximo. Uma “floresta” exuberante, não de
árvores, mas de amor.
Por isto que
convém ao maçom reservar, na sua vida, momentos de reflexão a este “sim”, como
é recomendável aos instrutores voltarem aos já Aprendizes diversas vezes para
tratar desta passagem da cerimônia de Iniciação, até que cada um compreenda, em
toda sua extensão, o significado do profano e do sagrado da opção que fez.
Raimundo
Rodrigues, o mestre exponencial da filosofia maçônica, trata deste assunto e
compara quem faz reflexão a um “buscador”. Elogia quem exerce a busca: “ ...
certo é que o buscador vai encontrar coisas que jamais pensou existissem no seu
Ego ... virtudes e defeitos ou até vícios cuja existência era ignorada”. Mas
este é o caminho da continuidade ao “sim”. E lavra uma sentença horrível, para
os que não buscam: “Depois de iniciados, só não se darão ao trabalho da busca
aqueles que se julgam perfeitos. Estes tais nunca crescerão na virtude, nem na
Maçonaria nem fora dela”. (A Filosofia da Maçonaria Simbólica, vol 2, pág 70,
Editora Maçônica A Trolha, Londrina/PR).
Pois é, quando
a miopia da dúvida encostar, é não ter
cerimônia de usar o tônico rejuvenescedor do VITRIOL - “penetra os interiores
da terra e esquadrinhando-os encontrarás a pedra oculta”.
São os votos da farmacopéia maçônica e os nossos também.
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