sábado, 29 de janeiro de 2011

UMA URGENTE E "DOCE REVOLUÇÃO"

I - ADENTRANDO O ASSUNTO

Irm.: Antônio do Carmo Ferreira


Durante alguns anos, pouco mais que uma década, exerci atividades educacionais, inicialmente como professor e, posteriormente, acumulando funções de professor e dirigente escolar, estando em regime de tempo integral e dedicação exclusiva ao encerramento deste ciclo de atividades no campo da educação em Universidades do setor privado e do setor público do governo federal. Foi um tempo em que o Brasil dispensava grande consideração ao planejamento, especialmente na região nordeste, onde, por coincidência, eu trabalhava e em cuja especialidade fiz graduação e adquiri experiência. Minha formação acadêmica, portanto, não era para o magistério e sim direcionada para funções técnicas. O exercício do magistério, no entanto, presenteou-me com uma experiência muito rica, ao me prover de material para longas reflexões que as tenho repetido vezes sem conta, e que sempre me acodem com lições valiosíssimas.

O entendimento é que precisamos sempre de não somente aprender a fazer, mas também aprender a viver. A vida é um presente de Deus e como tal deve ser tratada. Envolta de felicidade e utilizada como um instrumento de tornar o próximo feliz. A educação vemo-la por esta ótica. Um processo de acréscimos, de transformação e de aperfeiçoamento. Transforma-se uma pedra bruta em polida. E esse estado de polidez não se finda, apresenta-se insatisfeito, querendo mais, requerendo um estágio superior de maior brilhantismo. A educação é o processo de que se vale a humanidade para esta revolução.

Aprender e ensinar, na escola, ou fora de seu recinto, são meios requeridos pela educação. Aliás a educação transcende a escola. A formação da cidadania começa no seio da família, e depois da escola continuamos nos educando. O mestre Ruy Barbosa nos chama a atenção para este aspecto ao observar que “a pátria é a família amplificada”. A pátria mal servida, maculada pela corrupção, negada em suas convocações para o progresso, tudo isto pode ter raízes na omissão da família que não teve a responsabilidade de plasmar a conduta de seus filhos no sentido do bem. Ou não ligou para ensinar-lhes os bons costumes pela palavra e ou pelo exemplo, ignorando a sabedoria popular de que “o costume de casa vai à rua”.

Educar para a cidadania é uma obrigação de todos nós, seja na escola ou fora da escola. Cada pessoa, entendida como templo de Deus, dELE imagem e semelhança, tem essa missão cidadã: buscar a felicidade para si e para o próximo. Além dos projetos da sociedade a que pertence, seja civil ou governo, cada pessoa deverá assumir o seu projeto pessoal de ser útil.

Estamos acostumados, no entanto, a observar a educação sob outro enfoque. A educação que se adquire, não com a prioridade da utilidade do viver, mas com a finalidade do fazer. Aí a escola tem tudo a ver e se inscreve como um bem necessário e indispensável. Esta educação tem o selo orteguiano da “circunstância” e para alcançar o êxito a que se propuser dependerá do envolvimento de todos: governo, família, sociedade, organizações. Responde aos chamamentos do progresso, sendo este uma missão de caráter divino, pois que a pessoa ganhou a vida não para o ócio e sim para a ação. A própria multiplicação da espécie atesta essa missão. A população cresce e exige proporcionalmente o crescimento quantitativo de bens e serviços, para, no mínimo, garantir a sua sobrevivência.

Vivemos “o desafio de nosso tempo”, como advertiu o historiador Arnold Toynbee, em que as novas descobertas têm atropelado os anos em seus surgimentos: antes milhares de anos, hoje questão de dias entre uma e outra. Mais ainda: as armadilhas da globalização agravando tudo. As respostas a esses “desafios” estão na competência da educação. Antes, acontecia a geração do posto de trabalho, para ser ocupado por um profissional senhor da tecnologia nacional, para produção de bens protegida por barreiras nacionais. Agora, não. O “mundo é uma aldeia global”, como colocou Marshal MacLuhan. Caiu a barreira protecionista e a exigência tecnológica terá que atender ao mesmo padrão do local e de alhures. Isto quanto ao produzir, sendo exigida também a equalização do saber para usar aquele bem. Tudo e em pouco tempo estará mundializado. A educação terá que atender a padrões internacionais, como também e pelas mesmas circunstâncias terão as empresas produtoras de bens e serviços.

Inclui-se neste espaço dos desafios, e é importante que não esqueçamos disto, o alerta que nos fez a escritora Maria Lúcia de Arruda Aranha sobre o que chamou de “educação permanente”. Temos que pensar nisto, que a rápida evolução tecnológica estará sempre exigindo nosso retorno à escola. Novos produtos e novas maneiras de produzir ensejarão, decerto, novas profissões e obviamente a extinção de outras, de modo que “ninguém mais pode se formar em alguma profissão para o resto da vida”.

Fico a pensar que o maior gesto de amor à Pátria será a contribuição, para que o analfabetismo entre nós seja extinto. Sobre este assunto quero louvar a decisão governamental de pautar a ação em seu projeto de lei, já enviado à Câmara, com a redação “Art 2º São diretrizes do PNE – 2011/2020: I – erradicação do analfabetismo”. E quero dizer mais que ao mesmo tempo em que se discutisse o PNE, o povo brasileiro deveria colocar uma pedra irremovível sobre esse mal, exigindo do Congresso e da Chefia do Poder Executivo Federal a revogação do dispositivo de lei que concede ao analfabeto o direito de votar.

A educação brasileira terá que acompanhar o projeto Brasil, através do qual o País pretende igualar-se às nações desenvolvidas em poucas décadas. Quer dizer, não é acompanhar lerda e distantemente, é acompanhar envolvido “lutando e pelejando”, fazendo, com a mão na massa. Para isto dependeremos da escola e dos cursos que sirvam de base e formem o profissional. Dos mestres estimulados a esse mister e compensados por isto. E das organizações que acompanhem e cobrem a colimação das metas. Fora dessa calha, debalde será qualquer esforço, resultando em desperdício de recurso e frustração.

Para atingir esse objetivo, consta que a educação brasileira padece de graves percalços em todos os níveis. Pesquisas internacionais recentemente divulgadas revelam o quanto estão inferiorizados nossos estudantes no que se refere à qualidade da educação. Numa aferição de 1 a 6 nos itens: leitura, aritmética e ciências, ficaram no ponto 1: jovens de 15 anos avaliados em todos os estados do Brasil. Precisamos, já e já, de nossos jovens na escola, em regime de dois turnos/dia e que ao término do curso médio deixe a escola com o saber e o diploma não só do curso médio, mas também de uma profissão, que a um só tempo atenda a sua vocação e às exigências do “projeto Brasil” de desenvolvimento.

Dá uma tristeza muito grande constatar que nem LER sabemos. Esteve certo o Governo Federal em estabelecer, através de Lei, que nenhuma escola se instala, sem que tenha uma biblioteca e deu prazo de 10 anos para que todas as escolas assim providenciassem. Que essas bibliotecas não sejam depósitos de livros, mas um lugar provido de profissionais que fomentem o hábito da leitura.

Não haverá desenvolvimento econômico e social sem educação. Compreendendo assim, quero crer, é que a Presidência da República encaminhou à Câmara dos Deputados o Plano Nacional de Educação, diretrizes e metas para a educação em nosso País nos próximos dez anos. Então é preciso que acompanhemos a tramitação desse projeto até a sua sanção em lei. Para melhora-lo se for o caso e, depois, exigir o seu cumprimento.

Desejo ressaltar o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo movimento nacional “todos pela educação” de que é conselheiro o professor Mozart Ramos Neves, ex reitor da Universidade Federal de Pernambuco e ex secretário do governo de Pernambuco para os assuntos da educação. Como tomo a liberdade de indicar à leitura o livro “História da Educação e da Pedagogia Geral e Brasil” da admirável filósofa e respeitável educadora Maria Lúcia de Arruda Aranha.

A melhoria da qualidade da educação é uma prioridade que se impõe na vida dos brasileiros e todos têm a obrigação do engajamento nessa cruzada. A maçonaria tem um pouco mais de obrigação, e os maçons reconhecem isto, porque um de seus principais objetivos é “combater a ignorância, mãe de todos os vícios”. E a maçonaria não está omissa. Ao reverso disto, está atenta, indormida, com seus líderes em repetidas assembleias gerais, na busca de um final feliz, entusiasmada, porque vem de seus ensinamentos: “ordo ab chao”.

sábado, 22 de janeiro de 2011

INFORMABIM 278 A e B

COSTUME DE CASA VAI À RUA

Irm Antônio do Carmo Ferreira
(Informabim 278 B)


Ultimamente, tem sido freqüente a veiculação de notícias a respeito de agressões, sofridas por professores, praticadas por alunos, no recinto das escolas. Também de aluno contra aluno num flagrante desrespeito ao ambiente escolar que deveria ser levado na mais alta conta por todos, até como um ambiente sagrado, diante dos fins a que se destina.

Daí, para muitos analistas, ser complexo o processo da educação. Pois esta não se exaure na ação do governo, oferecendo a escola e estabelecendo o elenco de disciplinas que estruturam os cursos.

A educação tem amplitude que excede a escola. Reparando bem, antecede a escola. Antes de ir à escola, a pessoa já recebe educação. Portanto no processo educacional, torna-se necessário o envolvimento das organizações, da sociedade, da família ou dos pais. E não só do governo.

Aliás já está passando do tempo de a gente sepultar esse miserável costume de colonizado, de ser dependente. Que vem de muito longe. De tudo depender do governo. Aqui mesmo, entre nós, temos um exemplo: não sustentamos o êxito do movimento da Independência desencadeado em 6 de março de 1817. E a Revolução Republicana era do povo que, com tanto sacrifício, construía uma pátria para os brasileiros. Mas, pouco tempo depois – 5 anos – os brasileiros concordavam com a mesma decisão, bastando um “grito” do “Príncipe”, como se o “poder” fosse uma propriedade do rei e não “emanasse do povo”.

Então não vamos desprezar a iniciativa governamental de enviar ao congresso um Plano Nacional de Educação, como já foi enviado. Contudo é necessário o envolvimento de todos nas discussões desse Projeto. É preciso ver se ele corresponde a nossos anseios. Aos anseios de uma Nação que convive com outras nações num mundo globalizado, correndo ao impulso de uma tecnologia muito veloz que não espera. Em que a nossa juventude vai conviver e competir pelas posições ocupacionais, não somente no campo político, mas também e sobretudo no profissional. Assim é preciso examinar se esse Plano conduz à colimação desses anseios, considerando que a educação tem a ver com esse processo de transformação, em que a escola é um instrumento.

Não vai ser fácil o implantar desses novos padrões educacionais (melhoria da qualidade da educação), porque precisamos aprender os novos conhecimentos na velocidade em que eles surgem, e, ao mesmo tempo, encontrar a melhor didática de transmiti-los. Quer dizer, valorizar o magistério, estimulando as vocações com a remuneração condigna e o respeito que o mestre deve merecer. E da parte do alunado, não apenas ensejando a escola, mas também o despertando para sua importância na construção do amanhã e de sua própria sobrevivência a nível de bem estar, e envolvendo os pais (até punindo quando for o caso) quanto à sua obrigação de contribuir para a educação dos filhos que colocaram no mundo sem que eles pedissem para que isto viesse a acontecer.

É tempo de uma reflexão sobre a cantiga do “deixa a vida me levar” que o governo toma conta. Não esperemos nisto, porque o governo já despertou. Agora mesmo se ensaia o lançamento do PAC da “erradicação da pobreza extrema”, onde se inclui um item condicionante, isto é, o dinheiro vem, mas vinculado à “exigência que as pessoas que já fazem três refeições eduquem seus filhos para não dependerem do programa bolsa família”. A realidade está no “orai” de todos, para que tudo dê certo, e no “vigiai”, também de todos, para que nada deixe de ser feito absolutamente correto.

Os maçons estão convencidos de que a tarefa é complexa e difícil, que , por isto mesmo, requer o maior envolvimento de todos, mas que se inicia no lar, no seio da família, sob o cuidado dos pais, como ensinam as sabedorias erudita e popular – se “a pátria é a família amplificada”, “a rua tem o costume que vem de casa”.