O PADRE, A MENINA E O POETA
Irm Antônio do Carmo Ferreira
Fácil de se
constatar essa apreciação com a leitura de seu livro Os Sermões. Mas o jesuíta,
político, pregador e escritor, nascido em Lisboa (1608) e que veio a falecer em
Salvador/BA (1697), entendia que a palavra era um bom veículo para o ensino
daquilo que doutrinava, porém de maior eficácia, para isto, lhe parecia o
exemplo: o melhor de todos os sermões; o que mais deixaria marcas não apagáveis
na memória. Em síntese: o padre Vieira
deixou ensinado que o melhor de todos os sermões será sempre o exemplo.
Consagrada,
recentemente, essa sua afirmação. Quando uma foto da menina Rivânia, da Mata
Sul de Pernambuco, com uma mochila de livros , era vista por muitas centenas de
milhares de pessoas em todo o mundo.
Chovia muito e
as águas enchiam os rios que transbordavam e invadiam as casas ribeirinhas,
deixando muitos e incontáveis desabrigados. As famílias perderam seus
pertences. Patrimônio que construíram ao longo da vida, não só o que era de uso pessoal, mas também os de negócio,
pois muitos dos que as águas alcançaram, viviam do comércio e suas casas
comerciais foram atingidas.
A menina Rivânia
foi alertada pela avó. Ela deveria sair de sua casa, o mais rápido possível. E
como o tempo lhe era muito curto, pegasse o que achava mais importante. Rivânia
foi vista numa jangada, com uma mochila
contendo livros. Não continha roupas, nem calçados, nem comidas, nem
brinquedos. Continha livros, porque, indagada sobre isto, disse ela que nos
livros estava o seu futuro, estava a garantia de seu amanhã, melhor que o hoje
de tantas dificuldades como as que estava sofrendo.
A foto que ainda
está circulando pelo mundo, daquela menina salvando livros, decerto será um
exemplo para muitas gerações. Um sermão sem palavras. Uma tatuagem no corpo da lembrança que mais
tinta ficará com o passar do tempo, porque é um sermão pelo exemplo.
Essa crença no
milagre que o livro opera, mediante a leitura, tem feito de Rivânia, uma pessoa
admirada, uma mensageira. Um chamamento à leitura, ao livro, à educação.
Jornais impressos e da televisão têm mostrado “a menina que salvava livros da
cheia”, para que a sua geração e as próximas mirem-se em seu exemplo.
O poeta Castro
Alves chamaria Rivânia de bendita
menina. Pois para ele, escrevendo o poema O livro e a América, “Bendito (é)
quem salva o futuro”.
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