QUANDO TODO CIDADÃO É MARINHEIRO
Irm Antônio do Carmo
Ferreira(*)
A indiferença,
para com esses sofrimentos todos instalados em nosso País, generalizou-se. Pouquíssimos
são os que clamam, parecendo até que os brasileiros teriam nascido para sofrer..
Essas inquietações a que assistimos nos últimos meses, nada têm a ver.
Incendiar ônibus, quebrar portas de bancos, até depredar bens públicos são
gestos de vandalismos, ações de bandidagem, mas não de cobrança pelo bem-estar
de todos que, decerto um dia, haverá de vir, não pela via exposta, porém por
uma reformulação de costumes, em que se comprometa o gestor público, não somente o executivo,
mas também os que ganham para gerar a legislação pertinente, premiando os bons
e punindo os omissos, os maus.
Vejam! Estamos
em tempo de semeaduras. Este é o ano da escolha dos dirigentes do País e dos
Estados. O que ouvimos, e a mídia é farta nisso, é falar-se em candidatos aos
cargos, posições de grandes salários, poder e prestígio, contudo o plano de
ação que se eleitos pretendem executar, nele nem falar, e apresentar para
consideração do povo, menos ainda. Quer dizer, é muito postulante a empregos de
oito anos de duração, sem qualquer compromisso com o que vai realizar. E não há qualquer punição por nada
fazer ou até fazer contrariamente ao que deve ser feito.
Há umas coisas
a respeito das quais não podemos ficar indiferentes. Os sofrimentos ...
Direitos elencados em nossa Constituição Federal que não se respeitam. Delitos
que passam sem punição. Essa história das desigualdades regionais, por exemplo.
No mesmo Brasil, vários brasis. A CF estabelece no artigo 165 §7º e artigo 35
das Disposições Transitórias o instrumento para evitar tais disparidades
regionais, relacionando investimento e população. Mas o Nordeste tem 27% da
população brasileira, e o governo federal investe quanto na Região? Apenas 13%
dos recursos federais.(Diário de Pernambuco, 08.02.2014). E tome desigualdade
...
Nossos portos
todos nós sabemos do precário serviço que oferecem, como, da mesma forma, são
mantidas nossas rodovias, enquanto, diante disto, perde-se grande percentual
das safras de grãos no interior do país, acarretando graves prejuízos para os
produtores rurais, em conseqüência da omissão governamental. Escassez de
recursos financeiros? Nada disto. Outro dia, registrou a mídia que “dos 218
milhões de dólares previstos para investimentos em terminais brasileiros,
somente 15,5 milhões foram liberados”. Todavia “contrastando com esse desprezo
pelo interesse nacional, o governo investiu, em 2008, 682 milhões de dólares no
porto de Mariel, Cuba” (Jornal do Commercio, 14.02.2014).
Outro assunto
muito grave: a situação da educação pública. “A educação é um direito de todos”
e o Governo tem a obrigação de colocá-la à disposição, para preparar as pessoas
para exercício da cidadania e da prática do trabalho. (Art.205 da Constituição Federal).
As metas e os meios serão estabelecidos através de um Plano Nacional, para um
período de dez anos.(CF, Art 214). Sem esse plano, a educação se realiza sem
norte e daí os resultados pífios que as avaliações internacionais têm revelado
a respeito de nossa educação pública, marcas que nos humilham e desdizem nosso
futuro. O PNE 2 está no Congresso Nacional, há três anos. E cadê a
responsabilidade educacional ?
Quero registrar,
não por ser maçom, mas por um dever de justiça, que a Ordem Maçônica tem estado
atenta a essas omissões e indiferenças. Tem reunido, vezes sem conta, sua liderança
nacional, e pedido que o povo acorde e
tome consciência disso. Reclame seus direitos. Mas é uma tarefa muito grande,
para tão poucos! É preciso o engajamento de todos. Acuda-nos a convocação que
nos deixou o maçom Frei Caneca, que deu a vida nas obras de construção de nossa
Pátria: “Quando a nau da Pátria se acha em perigo sob a ameaça de naufrágio,
todo cidadão é marinheiro.”
*) Antônio do Carmo Ferreira é
Jornalista 5565/PE-MTE
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