segunda-feira, 25 de março de 2013



O LIMÃO E A LIMONADA
Irm Antônio do Carmo Ferreira

O assunto cuidar das crianças e jovens passou a ser   de elevada distinção em nosso País. Basta ver que ele se encontra hoje entre os índices que medem a grandeza de uma nação. Há até quem o hierarquize no topo dessas medidas, aposentando o velho PIB. Durante a  9ª Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente, realizada recentemente (12.07.2012), esse assunto foi abordado com fartura.  E por que esta nova hierarquia na identificação de grandeza nacional? Talvez porque nos dias que antecederam a Conferência, o noticiário tratou reiteradas vezes do produto interno bruto do Brasil, resvalando para o sentimento de preocupação, face ao  crescimento ora  se revelar em percentual inferior ao que se havia estabelecido para este período. Daí, queremos crer, a nova conceituação que, aliás, enfatiza os direitos de nossos jovens e, melhor ainda, defende a necessidade de eles mesmos construírem seu amanhã. 
Para a oportunidade e as atuais circunstâncias, em que se peleja  no combate à ignorância e luta-se  na fronteira da melhoria de qualidade da educação pública em nosso País, não haveria nada mais alvissareiro que encenar cuidado com a juventude, e melhor ainda se esse zelo residir no campo educacional, considerando que a educação é o melhor ingrediente na construção do futuro em que viverão, adultos e cidadãos, os jovens de hoje. Ademais a educação é um direito de todos a que se obriga o Estado proporcionar, e não um favorecimento a uma fatia da população. E sem uma educação que responda às exigências do espírito do tempo e perante ele se imponha, não é possível dar foro de credibilidade a profecias de futuro brilhante para crianças e adolescentes. Nem para ninguém.
Custa acreditar em que haja alguém neste País que ignore a situação aviltante em que se encontra nossa educação pública. Sinal maior não há que  professores, técnicos e servidores do setor  em greve por um período que já ultrapassa 60 dias, como se encontram, clamando por condições dignas de trabalho, e de atualização salarial ! Quantos milhões de estudantes sem aula, num tempo em que a educação pública se coloca num humilhante 87º lugar entre as cento e poucas nações que tiveram seu ensino básico avaliado! E 38% dos estudantes de curso superior não sabem ler e escrever plenamente, isto é, “não dominam habilidades básicas de leitura e escrita!”
A carreira do magistério está desestimulada. Constata-se que nos últimos anos tem diminuído a quantidade dos que procuram os
vestibulares de acesso aos cursos de formação de professor. O conhecimento, o professor e o aluno, na escola. O mestre, senhor do conhecimento, para transmiti-lo ao aluno. O magistério será sempre uma profissão muito exigida e de muita evidência, e, por isto, diferente das demais, sempre do retorno à escola, pois antes do ensinar, o mestre deverá ser senhor do conhecimento a transmitir. Como pensar assim, se não lhe forem possibilitadas as condições? Mas tal não está ocorrendo, sendo necessário o recurso da greve.
A história consagra o vigor do setor industrial como o responsável pelo desenvolvimento econômico das nações, mas esse vigor não esqueceu em nenhum lugar da presença de uma mão de obra altamente qualificada. Como poderá o Brasil alimentar a esperança de tornar exitosos e prósperos  seus polos de desenvolvimento, sem o atendimento a esse quesito? Por isso, o constituinte deu letra certa ao findar de escrever o artigo 205 (CF): “A educação ... será promovida ... visando ao pleno desenvolvimento da pessoa ... e sua qualificação para o trabalho”
As novas descobertas povoam nosso cotidiano e têm origem na velocidade com que se apreende o conhecimento tecnológico e inovador. Com este, é preciso a urgente familiarização, mas isto não se dá com  uma   educação   pública   omissa como a da atualidade e descomprometida com o futuro como se revela.
O PNE 2, embora seja uma carta de intenções do Governo, abriga fartas esperanças.  Pois entendemos que ele serve de instrumento para a erradicação do  analfabetismo; para fomentar a respeitabilidade que o professor merece; para tornar o ensino médio uma atividade que ocupe o jovem em tempo integral e culmine com uma profissão. Em suma, nele alberga uma preocupação com o fazimento do nosso amanhã, contanto que sejam estabelecidas metas e tempo de colimá-las, com responsabilidade e severa punição aos que tentarem corromper os objetivos estabelecidos.
Merecerá grande louvor quem for capaz de influir na rapidez da tramitação do PNE 2 e do projeto sobre a responsabilidade educacional, para fazê-los chegar à sanção presidencial antes de findar-se este ano, porquanto ambos estejam no Congresso desde novembro de 2010. O exercício dessa influência poderá surpreender o seu agente com a láurea da alquimia, dado estar convertendo a acidez do limão que ora representa nossa educação pública numa doce limonada, agradável ao paladar de todos.

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