CANECA: O JORNALISTA FEITO MÁRTIR
(I)
Irm Antônio do Carmo Ferreira
Frei Caneca
que havia padecido nos calabouços da Bahia, durante três anos, por decisão dos
representantes de D. João, pai de Pedro I, ainda acreditava que o decreto teria
sido uma enganação dos assessores de S.M.I., pois neste sentido suas são estas
palavras: “Para desgraça deste Império,
realizaram-se os temores dos que sabiam pesar o perigo da força armada nas mãos
de um príncipe jovem, rodeado de lisonjeiros sem caráter, inimigos encarniçados do Brasil”(I TP).
Essa crença de
Frei Caneca em S.M.I. era tamanha que, mesmo
estando o Decreto em vigência, ele ainda atribuía o documento a uma cilada em
que teria caído o Imperador, mas que logo haveria de corrigir a decisão. E esse
pensamento alcançou foro de realidade, ao ver de Caneca, diante da seguinte conclamação: “Rompamos por entre os maiores perigos, demandemos o norte da
Independência ou Morte, temos um seguro santelmo no imortal Pedro I. Com os
olhos fitos nele, sustentemo-nos na borrasca, que nos luzirá a bonança risonha;
trabalhemos com sofrimento e coragem.”(I TP)
Contudo, o
tempo – crítico dos críticos, no dizer de Guerra Junqueiro – em seu decorrer, não
tardou na derrubada da crença de Caneca, revelando-se a verdadeira intenção
política de SMI. Então o Frei (maçom e eclesiástico) teve a percepção dessa
reengenharia política imperial, enquanto o jornalista, a necessidade de
externá-la. Da junção dos dois sentimentos nasce o Typhis Pernambucano, periódico das
notícias daquele novo tempo que Pernambuco e vizinhos iriam vivenciar.
Disse assim o
jornalista Caneca, o frade maçom, quanto
à criação do noticioso: “Acorda, pois, ó
Pernambuco, do letargo em que jazes! ... O teu Typhis te apontará as cicladas,
os bósforos, as sirtes; te notará os
perigos ate onde se estender o horizonte da sua vista; ele subirá o mais
elevado tope da tua gávea, sem mudar a cor do rosto” (I TP)
E justificava
as razões por que se tornava necessária a existência e circulação do Typhis,
pois “Quando a nau da Pátria se acha combatida por ventos embravecidos;
quando pelo furor das ondas ela ora se sobe às nuvens, ora se submerge nos
abismos; quando, levada do furor dos euripos, feita o ludibrio dos mares, ela
ameaça naufrágio e morte, todo cidadão é marinheiro; um deve sustentar o timão,
outro por a cara ao astrolábio, ferrar o pano, outro alijar ao mar os fardos,
que a sobrecarregam e afundam, cada um prestar a diligência ao seu alcance e
sacrificar-se pelos seus cidadãos em perigo”.(I TP)
E o frade
maçom e jornalista, ele mesmo, colocava-se à disposição de Pernambuco, com cujo
irredentismo se identificava, sem temor de alardear, disposição que mais tarde
lhe valeu a vida. “Firme neste princípio,
eu levanto a voz do fundo da minha pequenez e te falo ó Pernambuco, pátria da
liberdade, asilo da honra e alcaçar da virtude! Em ti florescem os Vieiras, os
Negreiros, os Camarões e os Dias, que fizeram tremer a Holanda, e deram espanto
ao mundo universo; tu me deste o berço, tu ateaste, no meu coração, a chama
celeste da liberdade, contigo ou descerei aos abismos da perdição e desonra, ou
a par da tua glória voarei à eternidade. (I TP). (Informabim 328 B)
(Continua)
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