O
CONSTRUTOR DA REVOLUÇÃO DE 1817
Irm Antônio do
Carmo Ferreira
Para atender a convite do
comendador Elânio Pereira, Venerável Mestre do Areópago de Itambé, compareci
àquela Loja Maçônica no dia 6 de março, para, com a comunidade ali presente,
relembrarmos a revolução republicana de 1817. Estive em companhia do Presidente
da Academia Maçônica de Artes e Letras do Recife, o imortal acadêmico Carlos
Frederico Lopes de Barros, admirável pesquisador dos gloriosos feitos da ordem
maçônica em Pernambuco.
Desejava, na oportunidade, fazer
referências a Manoel Arruda da Câmara que, embora tenha fundado o Areópago,
onde se doutrinou o povo para a construção de uma pátria para os brasileiros,
sua existência é trazida ao conhecimento das gerações de hoje como um ilustre
cientista com sucesso total nos campos da botânica. Foi por seu intermédio que
a maçonaria ingressou no Brasil, em 1796, ao fundar o Areópago de Itambé, que a
partir de 1996, durante as comemorações de seu bicentenário, foi reconhecido
como o berço da maçonaria brasileira.
Manuel Arruda da Câmara é paraibano, nascido em
Pombal, no ano de 1752. Vamos encontrá-lo, 31 anos depois, no Convento dos
Carmelitas, em Goiana, mata norte de Pernambuco, como Frei Manuel do Coração de
Jesus. Fez votos em 25.11.1783.
Goiana, então, era um centro populacional já bastante
evoluído e por ali passavam e repousavam, oriundos do Recife, viajantes,
vendedores, pesquisadores, comerciantes, jornalistas, profissionais liberais,
religiosos, pessoas cultas e influentes, que demandavam a Paraíba, Rio Grande
do Norte, os sertões de Pernambuco ou que faziam o caminho inverso, buscando a
cidade do Recife.
É possível que, em contato com essas pessoas, tenha o
Frei Manuel do Coração de Jesus ouvido falar do grande esforço que já se fazia
na América Espanhola, no sentido de
torna-la independente, como ocorrera na América Inglesa. O entusiasmo e a
decisão do Frei podem ter encontrado vertente em tais informações.
Pretextando o aperfeiçoamento teológico, o Frei
embarca para Lisboa e lá chegando matricula-se nos cursos de Filosofia de Coimbra (27.10.1789). Mas não prossegue,
tendo sido, ali, perseguido em face do
elogio que fazia às causas da Revolução Francesa. Aparece em Montpellier,
centro universitário e laboratório político do sul da França, onde fez seu
curso de Medicina, matriculando-se em 15.8.1790 e defendendo tese em 02.09.1791. Também adquiriu grande saber em
Botânica, nela especializando-se. Segundo consta, aí em Montpellier fora
iniciado nos augustos mistérios e
despertado para a importância da emancipação política da América portuguesa.
Teve o privilégio de conhecer o Velho Mundo, em atividade de pesquisa, parte em
companhia de José Bonifácio.
No inverno de 1796, já ex Frade, médico, mas
dedicando-se a botânica, Manuel Arruda da Câmara instala o Areópago de Itambé
em companhia de vários outros sábios com e sem batina, objetivando doutrinar o povo e treinar adeptos para a
construção da Pátria dos brasileiros.
A primeira tentativa prática se deu em 1801 – a
Conspirata de Suassuna – que preconizava a instalação de uma República sob a
proteção de Napoleão Bonaparte. Resultou frustrado o ensaio, com o conseqüente
fechamento do Areópago. No entanto o entusiasmo pela causa se exacerbou,
transferindo-se o foco do movimento para Recife e seu entorno, onde várias
Lojas Maçônicas, disfarçadas de Academias, foram surgindo para agasalhar e doutrinar os novos adeptos à medida que estes cresciam em quantidade.
Em outubro de 1810, Manuel Arruda da Câmara se
encontrava na Ilha de Itamaracá e de lá escreve uma carta a seu afilhado João
Ribeiro (Padre), antevendo, para logo, a Revolução Republicana. E como se
revelasse muito doente e até previsse iminente sua morte, fazia algumas
recomendações em favor da abolição da escravatura com inclusão social dos
libertos, e da amizade com os irmãos das Américas inglesa e espanhola que
deveria ser intensificada. Faleceu no início do ano seguinte.
O respeitável e inesquecível irmão Mário Melo escreveu
em livro publicado em 1912 que o Areópago de Itambé foi a primeira escola
destes ensinamentos instalada entre nós e ali pontificava o Dr Arruda da
Câmara. O Areópago segundo entende era uma Loja Maçônica nos moldes das
existentes em Montpellier, onde Arruda da Câmara havia sido iniciado. Dr José
Castellani confirma esta condição de Loja e inclui o Dr Arruda da Câmara no rol dos maçons
que fizeram a História do Brasil. Enfim, o historiador Amaro Quintas,
escrevendo um dos livros mais lidos
sobre a Revolução de 1817, assegura que Manuel Arruda da Câmara foi o construtor da Revolução.
Então que se exalte o seu feito e
se registre o título que merece
OBRAS CONSULTADAS: 1) O Areópago de Itambé, Ferreira, Antônio
do Carmo, editora maçônica A TROLHA, Londrina/PR. 2) Os Maçons que Fizeram a História do
Brasil, Castellani, José, Editora A Gazeta Maçônica, São Paulo, página 21. 3) A
Maçonaria e a Revolução Republicana de 1817, Melo, Mário, Imprensa Industrial
I.Nery da Fonseca, Recife/PE, 1912. 4) A Revolução de 1817, Quintas, Amaro,
José Olímpio Editora, Rio, 1985, 2ª edição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário