ADEUS AO GIZ E À SALIVA Irm Antônio do Carmo Ferreira
Chega-me ao conhecimento a notícia de que se encontra em queda a procura pelos cursos de formação para o magistério. O descenso teria sido de 50%, tomando-se como referência as matrículas do último ano que antecede o quatriênio que terminou em 2010.
Por que tal vem acontecendo, a ponto da geração de tamanho desestímulo? Nem precisa analisar, para se dizer que esta constatação representa uma ocorrência de profunda gravidade. Porque não bastam as leis que oferecem as diretrizes, nem a escola paramentada com as condições físicas e provida dos instrumentos que a tecnologia proporciona, nem até a presença farta do alunado. Porquanto o mestre seja o início. Digamos assim: não existe uma partenogênese do saber, em que a lei, o prédio e o aluno, por si só, geram o saber. O saber é possuído e transmitido pelo mestre.
Então é grave a situação do desestímulo em busca do magistério, sobretudo agora, tempo em que a Nação elabora um plano decenal com vistas à melhoria da qualidade de sua educação e que prevê, dentre as suas metas, a de tornar a educação um bem de todos, significando dizer mais pessoas nas salas de aula, o que requer, portanto, a existência de muito mais professores.
Comenta-se, insiste-se mesmo, que a causa principal desse estado desestimulante estaria na baixa remuneração do professorado. Ora o professor é o instrumento de condução e distribuição do saber, tendo para isto de adquiri-lo pois ninguém ensina o que não sabe. O mestre é um profissional que estará sempre voltando à escola, especialmente o mestre de nossos dias em cuja apropriação do conhecimento haverá de ser mais veloz que a corrida tecnológica. O mestre terá que correr muito mais, de modo que já esteja de frente para receber o impacto da tecnologia no momento em que ela o encontrar.
Voltar à escola, adquirir conhecimento, instrumentalizar-se, atualizar-se no saber segundo a demanda do espírito do tempo, e dominar a nova didática com que distribuir o conhecimento, tudo isto requer disponibilidade financeira. Conquanto nenhum desses itens lhe virá de graça, como lingotes de fogo, caídos sobre as cabeças, em domingo de pentecostes. E a vertente dessa disponibilidade financeira é o seu salário.
Outro dia, em reportagem do Jornal do Commercio (edição de 09.02.2011, 1º cad. pág 2) havia inserta uma indagação do Senador Cristóvão Buarque a qual tem tudo a ver com o que estamos escrevendo: “Que futuro tem um país que diminui o número de seus professores?” E ele mesmo responde, afirmando e advertindo: “Não há futuro num país que não tem um alto potencial de produção de inteligência”.
Grão-Mestres e líderes maçons, diante da responsabilidade dos cargos que exercem, têm estado reunidos em assem-bleias gerais em vários pontos do Brasil, discutindo o assunto “melhoria da qua-lidade da educação”, chamando a atenção para estes pontos críticos, e sugerindo caminhos para seu equacionamento. Aconteceu assim, o ano passado, em Blumenau, Fortaleza, Salvador, Recife, Macapá e, já este ano, na Capital Federal.
Agora, estão essas lideranças, em companhia de renomados especialistas, analisando e acompanhando a tramitação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei que estabelece o Plano Nacional de Educação para os próximos 10 anos. E, nele, se inclui (item 9) dispositivo que trata da “valorização dos profissionais de educação”. Percebemos que esta será a janela pela qual se descortinam as chances para discussão da retomada do estímulo à fascinante e nobre carreira do magistério.
Pois é como escreveu a filósofa Maria Lúcia de Arruda Aranha (em Filosofia da Educação, Edit Moderna, SP, pág 296): [“ ... a aula de saliva e giz está condenada ...”].
(Informabim 280 B)
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
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