AS VIGAS MESTRAS DA MAÇONARIA
Ir Antônio do Carmo Ferreira
Este é o título de uma das obras do talentoso escritor Jorge Buarque Lira, a respeito da qual apresentarei, linhas adiante, ainda neste texto, algumas impressões. Antes, porém, desejo conversar um pouco sobre reedições de livros que, na oportunidade do lançamento inicial, foram muito importantes para o leitor maçônico brasileiro.
Sempre gostei de ler. Lia não somente livros didáticos mais de um em cada matéria, como também lia os que de alguma forma tinham a ver com a formação religiosa a que eu então havia sido destinado. Eu era um estudante em regime de internato. E fazia da leitura minha principal diversão. Recordo que a leitura da Bíblia, passava-me a sensação de um bem-estar inigualável. Seria capaz de trocar pelo almoço, por mais saboroso que ele fosse ou ainda maior que fosse a fome em que eu estivesse. Eu ficava encantado com aquelas narrações. Era a descoberta de um maravilhoso mundo novo, que a leitura da Bíblia me proporcionava. Adquiri assim o hábito da leitura.
Com o ingresso na Maçonaria, minha leitura passou a privilegiar os livros que lhe diziam respeito. Os rituais e, em seguida, as obras referentes à doutrina, à ritualística e à história. Então a história que comecei a desbravar era aquela estória! A neblina dos tempos ... O avental e a folha de parreira ... A origem adâmica ... Os legados de Noé ... A construção do Templo de Salomão ... Narrações que não resistiriam às exigências da credibilidade. Tiradentes, como maçom, por exemplo ... Felizmente que não eram tantos os livros editados com estes conteúdos.
Aí conheci Xico Trolha e Castellani. Eles me alertaram. Das edições nacionais, convinha que eu pegasse a linha documentada. Não formasse estoque de saber alicerçado no “achismo”. De acordo, passei a ler Nicola Aslan e Teobaldo Varoli Filho, e os próprios Castellani e Xico Trolha. E todos os outros escritores de maçonaria aderentes a essa trilha. Nada de “acho que”, nem de que “o guru me disse”. Graças a esse trabalho de Xico e Castellani, expostos nas Lojas, nos Congressos, nas suas colunas jornalísticas, em suas palestras, num esforço titânico nem sempre muito compreendido, é que se tem hoje, com certa evidência, a realidade da Ordem, sua trajetória, da origem aos nossos dias.
Em tempos recentes, a Editora Maçônica A TROLHA tomou a decisão de reeditar Nicola Aslan. É um benefício que proporciona à geração atual de maçons. Obras que respeitam a verdade e colocadas à disposição dos maçons leitores a preços favoráveis sem agressão ao bolso.
Soube no mês de agosto, durante Encontro maçônico, realizado aqui no Recife que a Editora A Trolha pretendia dar continuidade a esse projeto de relançamento de obras que teriam influenciado muitos e muitos ao tempo de sua edição. E que “As Vigas Mestras da Maçonaria” do Jorge Buarque Lira estaria na vez. Beleza!
Conheço a obra, como conheço do mesmo autor Maçonaria e o Cristianismo. Vigas Mestras, li-o, faz uns 30 anos se não me falha a memória. Um tempão, heim, mas ainda recordo algumas de suas idéias. Era um momento em que se divulgavam muitas asneiras a respeito da maçonaria, e até se atribuíam coisas diabólicas a sua atuação. Prosélitos de uma determinada religião verberavam isto. Buarque era pastor de outra religião e mostrava nas “Vigas Mestras” que tudo aquilo de ruim que se dizia não era verdade. A Ordem, como assegurava Frei Caneca, na X Carta de Pítia a Damão, só faz o bem, e forma seus adeptos no amor ao próximo para tornar feliz a humanidade. E nestes propósitos consistiam “As Vigas Mestras”.
O Almirante Sodré, prefaciando essa obra, ressaltou que “suas páginas se assemelham a sermões e nelas tem-se muito a aprender. O autor empolga sempre pela sua veemência e sinceridade. Lendo-o tem-se a impressão de o ver falando, ferindo forte os erros com a sua expressiva impetuosidade”.
Jorge Buarque Lira amou a Maçonaria e isto se constata no ardor e na veemência com que a defendeu e divulgou. Num tempo em que as discussões a respeito da Ordem eram acirradas, e os opositores desejavam com afinco enfraquecê-la e desmoralizá-la. Quer dizer, varrê-la da face da terra, o que seria um grave e irreparável prejuízo para a evolução da humanidade. As Vigas Mestras, se reeditadas, trarão ao conhecimento desta geração maçônica um acervo de informações sobre a crueldade que se praticou contra a maçonaria e a condição de perenidade que ela possui. Ou como se perguntava Howard, o autor de A Conspiração Ocultista, “Por que, nada obstante esses séculos todos de existência, a maçonaria ainda desperta tanta paixão?!”
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