domingo, 6 de junho de 2010

INFORMABIM 263 A e B

SUSTANDO O DIVÓRCIO ENTRE O LIVRO E A ESCOLA

Irm Antônio do Carmo Ferreira


O diário oficial da União, em sua edição de 24 de maio de 2010, traz uma notícia excelente para a educação no Brasil. Nela, está publicada lei que obriga a existência de biblioteca em todas as escolas do País. Projeto vitorioso do deputado Lobbe Neto, do PSDB de São Paulo, que foi sancionado em Lei nº 12.244.

Mas tal exigência faz sentido num Brasil de 510 anos de descobrimento? Até nos toma de surpresa, porque, mesmo sem expressar, o novo dispositivo legal carrega embutida a denúncia de que há negligência neste setor. Pois ao que se percebe está havendo divórcio entre a unidade de ensino e o livro, quando é sabido que uma escola só obtém autorização para instalar-se, constatada a existência de uma biblioteca no ambiente em que funciona..

Porém tal não vem acontecendo. O Censo Escolar de 2009 revela que os órgãos fiscalizadores dormiram no ponto. Das “152.251 escolas de ensino fundamental, no País, somente 52.335 têm biblioteca”, apuraram os pesquisadores. O ensino médio padece da mesma escassez, dado que metade de suas escolas, de um total de 25.923, não possui biblioteca. Quer dizer: não têm biblioteca nem espaço para leitura. E não é só o setor privado que é negligente, porquanto “só 28,2% das escolas públicas do País contam com biblioteca”. O gestor público ignora que “Uma nação se faz com homens e livros” (M Lobato).

Ressalte-se que O Ministério da Educação mantém, em suas atividades, o Programa Nacional de Biblioteca da Escola que envia livros, apoiando, por este intermédio, o sistema de ensino público, o qual, segundo se divulga, recebeu, no período 2005/2010, cerca de “43 milhões de livros de literatura infantil e infanto-juvenil”. Em que planeta eles se escondem?

Então a Lei federal nº 12.244/2010 vem numa boa hora, especialmente porque se encontra em curso no Congresso Nacional o Plano Decenal de Educação (2011 a 2020). Ela determina que em dez anos (até 2020) cada escola do governo ou privada deverá ter uma biblioteca com um acervo mínimo de livros, de pelo menos um título por aluno matriculado. Também que haja local próprio à leitura e pessoas capacitadas profissionalmente para sua coordenação.

Muito nos deve animar este último item: do espaço e do fomentador. Conquanto não basta a existência da biblioteca. É preciso que o gesto não se limite à formação de um depósito de livros. Por isto ser indispensável a presença do fomentador da leitura. Do profissional dedicado e inventivo que estimule o hábito da leitura, até, se necessário for, para romper a inércia, com brindes e premiação aos que servirem de exemplo.

Contudo fiquei com uma nesga de tristeza, diante do prazo que a Lei estabelece, para o seu total cumprimento: dez anos. Convenhamos que é um prazo muito dilatado. É um longo prazo. “E a longo prazo, ensinava J M Keynes, todos nós estaremos mortos”. Para sermos menos drásticos, o prazo de dez anos pode gerar frustração, própria dos que esperam um Brasil culto e próspero de imediato.

Para que isto não aconteça, que tal a Maçonaria ingressar neste projeto? Mediante convênio, ir instalando bibliotecas em escolas do setor privado? E nesse processo, recorrendo a nomes de grande valor maçônico, para as denominações, como Biblioteca Arruda da Câmara, Monsenhor Muniz Tavares, Padre João Ribeiro, Frei Caneca, Cônego Januário Barbosa, Gonçalves Ledo, Hipólito José da Costa, Padre Roma, Cônego das Mercês, José Castelani, Xico Trolha, Teobaldo Varoli Filho, Nicola Aslan, Lysis Brandão da Rocha, Fernando Salles Paschoal, Octacilio Schuler Sobrinho, Osvaldo Ortega, Rizardo da Camino, Ambrosio Peters e tantos outros nomes célebres da literatura maçônica brasileira ou que, integrantes da Ordem, tiveram uma vida dedicada ao amor ao próximo ? Este projeto serviria, inclusive, para o marketing da Ordem, confirmando também, por este intermédio, que ela, realmente, veio para combater a ignorância!

No mais, dar-se-ia um freio nesse divórcio, cuja existência se constata, entre a escola e o livro. Urge mesmo que todos nós nos envolvamos com isto. Quem sabe não é o Grande Arquiteto do Universo, colocando esta luz em nosso caminho ... ? Dando-nos esta oportunidade de “tornar feliz a humanidade” ? Que o poeta maçom confirme este enten-dimento: “O livro, caindo n´alma, é gérmen que faz a palma. É chuva que faz o mar”.

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