quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

INFORMABIM 422 (A e B)



O CONSTRUTOR DA REVOLUÇÃO DE 1817
Irm Antônio do Carmo Ferreira

Desejo, através deste artigo, fazer referências a Manoel Arruda da Câmara que, embora tenha fundado o Areópago, onde se doutrinou o povo para a construção de uma pátria para os brasileiros, a sua existência tem sido trazida ao conhecimento das gerações, como um ilustre cientista com sucesso total nos campos da botânica. Isto não deixa de ser verdade, como tanta verdade é outro feito que, em nossos dias, merece maior destaque e relevância. Foi por seu intermédio que a maçonaria ingressou no Brasil, em 1796, ao fundar o Areópago de Itambé, o qual a partir de 1996, durante as comemorações de seu bicentenário, foi reconhecido como “o berço da maçonaria brasileira”.
Manuel Arruda da Câmara é paraibano, nascido em Pombal, no ano de 1752. Vamos encontrá-lo, 31 anos depois, no Convento dos Carmelitas, em Goiana, mata norte de Pernambuco, como Frei Manuel do Coração de Jesus. Fez votos em 25.11.1783.
Goiana, então, era um centro populacional já bastante evoluído e por ali passavam e repousavam, oriundos do Recife, viajantes, vendedores, pesquisadores, comerciantes, jornalistas, profissionais liberais, religiosos, pessoas cultas e influentes, que demandavam a Paraíba, Rio Grande do Norte, os sertões de Pernambuco ou que faziam o caminho inverso, buscando a cidade do Recife.
É possível que, em contato com essas pessoas, tenha o Frei Manuel do Coração de Jesus ouvido falar do grande esforço que já se fazia na América  Espanhola, no sentido de torná-la independente, como ocorrera na América Inglesa. O entusiasmo e a decisão do Frei podem ter encontrado vertente em tais informações.
Pretextando o aperfeiçoamento teológico, o Frei embarca para Lisboa e lá chegando matricula-se nos cursos de Filosofia  de Coimbra (27.10.1789). Mas não prossegue, tendo sido, ali,  perseguido em face do elogio que fazia às causas da Revolução Francesa. Aparece em Montpellier, centro universitário e laboratório político do sul da França, onde fez seu curso de Medicina, matriculando-se em 15.8.1790 e defendendo tese em  02.09.1791. Também adquiriu grande saber em Botânica, nela especializando-se. Segundo consta, aí em Montpellier fora iniciado nos augustos mistérios  e despertado para a importância da emancipação política da América portuguesa. Teve o privilégio de conhecer o Velho Mundo, em atividade de pesquisa, parte em companhia de José Bonifácio.
No inverno de 1796, já ex Frade, médico, mas dedicando-se a botânica, Manuel Arruda da Câmara instala o Areópago de Itambé em companhia de vários outros sábios com e sem batina, objetivando  doutrinar o povo e treinar adeptos para a construção da Pátria dos brasileiros.
A primeira tentativa prática se deu em 1801 – a Conspirata de Suassuna – que preconizava a instalação de uma República sob a proteção de Napoleão Bonaparte. Resultou frustrado o ensaio, com o conseqüente fechamento do Areópago. No entanto o entusiasmo pela causa se exacerbou, transferindo-se o foco do movimento para Recife e seu entorno, onde várias Lojas Maçônicas, disfarçadas de Academias, foram surgindo para agasalhar  e doutrinar os novos adeptos  à medida que estes cresciam em quantidade.
Em outubro de 1810, Manuel Arruda da Câmara se encontrava na Ilha de Itamaracá e de lá escreve uma carta a seu afilhado João Ribeiro (Padre), antevendo, para logo, a Revolução Republicana. E como se revelasse muito doente e até previsse iminente sua morte, fazia algumas recomendações em favor da abolição da escravatura com inclusão social dos libertos, e da amizade com os irmãos das Américas inglesa e espanhola que deveria ser intensificada. Faleceu no início do ano seguinte.
O respeitável e inesquecível irmão Mário Melo escreveu em livro publicado em 1912 que o Areópago de Itambé foi a primeira escola destes ensinamentos instalada entre nós e ali pontificava o Dr Arruda da Câmara. O Areópago segundo entende era uma Loja Maçônica nos moldes das existentes em Montpellier, onde Arruda da Câmara havia sido iniciado. Dr José Castellani confirma esta condição de Loja e  inclui o Dr Arruda da Câmara no rol dos maçons que fizeram a História do Brasil. Enfim, o historiador Amaro Quintas, escrevendo um dos livros mais lidos   sobre a Revolução de 1817, assegura que Manuel Arruda da Câmara foi o construtor da Revolução.
Então que se exalte o seu feito e se registre o título que merece

OBRAS CONSULTADAS:  1) O Areópago de Itambé, Ferreira, Antônio do Carmo, editora maçônica A TROLHA, Londrina/PR.  2) Os Maçons que Fizeram a História do Brasil, Castellani, José, Editora A Gazeta Maçônica, São Paulo, página 21. 3) A Maçonaria e a Revolução Republicana de 1817, Melo, Mário, Imprensa Industrial I.Nery da Fonseca, Recife/PE, 1912. 4) A Revolução de 1817, Quintas, Amaro, José Olímpio Editora, Rio, 1985, 2ª edição.

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